sexta-feira, 10 de abril de 2009

*Gibran fala do silêncio e da beleza, em carta para Mary Haskell, datada de 1915

Nova York, 9 de fevereiro de 1915.

Minha amada Mary,

talvez você não entenda o meu silêncio.

Entretanto, sinto que você também está quieta, porque esses meus dias silenciosos também são seus.

Saiba, porém, que é impossível para mim fazer qualquer coisa sem você - e que eu preciso de você em minha vida diária.


Num dia desses, encontrei o nosso amigo Ryder em um quarto sem calefação.

Tudo estava sujo e desarrumado ao seu redor, mas sinto que ele resolveu viver apenas da maneira que sempre desejou.

Tem dinheiro, mas não pensa nisto.

Sua mente não está mais neste planeta e vaga além de seus próprios sonhos.

Ele leu um poema que escrevi, e chorou. Então, disse:


- É belíssimo! Demais para mim... Não sou digno de lê-lo...


Ficou um pouco em silêncio, e depois tornou a falar:


- Já pensei em mandar uma carta para você, mas nunca fiz isso, porque é necessário que a minha alma se mova de lugar, antes que eu escreva...


Gibran


*Gibran Khalil Gibran nasceu em Besharri, ao Norte do Líbano, em 1883, e morreu em Nova York, em 1931. Autor de "O Profeta", um dos vinte livros mais lidos do mundo até hoje, o "Amado Mestre", como ficou carinhosamente conhecido também foi desenhista e pintor, sendo o aluno predileto de Rodin. Também foi filósofo e poeta.

Mary Haskell, tida pelos estudiosos de sua obra como o maior amor da vida de Gibran, foi uma professora norte-americana que, ao conhecer a obra do artista, abriu as portas do jovem libanês para o sucesso no mundo profissional, ao financiar seus estudos na Academia de Belas Artes, em Paris.

A carta aqui publicada integra a obra "Cartas de Amor de Gibran", publicação organizada e traduzida pelo escritor brasileiro Paulo Coelho.

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