segunda-feira, 13 de abril de 2009

Lupicínio fez o hino para a torcida errada



Lupicínio errou!

Ai, senhor, tenha piedade de mim, porque talvez eu não saiba o que esteja dizendo! Mas, como assim? Sei, sim, Murilo! Ouso dizer que Lupicínio Rodrigues, um dos maiores compositores e intérpretes brasileiros de todos os tempos cometeu um grande equívoco em sua obra praticamente impecável, meus senhores! Feito! Pronto! Falei! E agora?!

Digo mais, os versos maravilhosos de Ela disse-me assim, Volta e Nervos de Aço, além de todos os demais daquele artista genial, não foram suficientes para mitigar tamanho desatino do mestre Lupicínio. E tenho dito: o pai maior da dor de cutuvelos, embora envolto em sua aura angelical de eterno ser, foi tomado de súbita e imortal falha, em um derradeiro instante de seu poder de criação incomum.
Mas como?! Mas quando??? Eu vos digo: foi em 1959, exatamente no momento em que pegou a pena e deitou a seguinte rima no papel:

Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo é que nós estaremos
Com o Grêmio, onde o Grêmio estiver

Gremistas de todo o mundo, por favor: não me xinguem! Não desejem, tampouco, o mal de minha mãe, que assim como as mães dos árbitros de futebol nada ou pouco têm a ver com isso e/ou com aquilo. Esqueçam, por um minuto apenas, meu coloradismo e o próprio gremismo que os alimenta, em nome da razão, da percepção racional, do poder de crítica que todos nós temos e manifestamos em algum momento de nossas vidas insanas. Leiam e reflitam.

Até a pé nós iremos
Para o que der e vier
Mas o certo é que nós estaremos
Com o Grêmio, onde o Grêmio estiver

Repito: mas de onde? Mas, como? É que torcedor do Grêmio que se preze não vai a pé. Nunca foi. De ônibus muito menos. Van ou lotação genérica? Nem pensar!!! Talvez, não seja preciso ser de Porto Alegre para saber, porque está escrito nas estrelas: gremista vai de táxi! Gremista, para ver o Grêmio, vai de carro!


Quem é que vai a pé? Os colorados, naturalmente! Qual clube tem no povo a sua origem, e não na elite? O Internacional, evidentemente. Qual instituição futebolística só passou a aceitar negros no time depois da década de 1940? Foi o Inter? Ou será que foi o Grêmio? O que a história registra, meus amigos? Longe de querer trazer a questão para o campo étnico, mas aprofundando-a no de classes sociais, embora ambos também se relacionem, mas, voltando ao tema central deste post, geralmente, quem vai a pé e quem vai de táxi???

Nós, colorados, vamos a pé! Vós, os gremistas, vão de táxi, carro de passeio, enfim! É fato! Contra fatos, não há argumentos!

Eu mesmo sou um exemplo, de tantos. Neste domingo, 12 de abril, subi a pé a ladeira interminável do Alto de São João, no bairro da Boca do Rio, em Salvador (BA), para ver o jogo do Inter contra o Canoas, válido pelas semifinais do Campeonato Gaúcho. Detalhe: às 19h! Vocês sabem o que significa subir tal ladeira, tamanha ladeira, num domingo, a esta hora, para ver o time jogar uma partida que até as pedras já sabiam o resultado? E olhem que estou a mais de mil quilômetros de Porto Alegre. Fui ao Centro Gaúcho da Bahia, ver o confronto através do canal fechado.

Em suma, até aqui, em São Salvador, nós, colorados, vamos a pé, viu Lupicínio??? E os gremistas de Salvador, o que tem a me dizer? Qual deles já subiu, a pé, a ladeira interminável e por que não dizer sem fim que dá acesso ao Centro Gaúcho da Bahia no bairro da Boca do Rio, hein, hein? Nunca! Vão de táxi! Passam por mim, lá embaixo, todo suado, de táxi! E para completar a corneta, colocam-se para fora da janela e gritam para que eu ouça:

- Subindo a pé?

- Tem que ser colorado, pé rapado!

E em seguida, morrem de tanto dar risada, enquanto o táxi sobe a ladeira e é claro: antes de o gre-nal terminar.

Os gremistas vão de táxi para o Olímpico. Sempre foram. Do contrário, não vão. Ficam em casa. Assistem pela TV, afinal, táxi é táxi - até ar condicionado tem! Já pensou que perigo: andar pela Carlos Barbosa, Cascatinha, Azenha, nesses tempos de violência crucial a pé, como ilusoriamente sugeriu o mestre saudoso Lupicínio Rodrigues?

Não, não, não! O erro é histórico mas ainda passível de ser corrigido.

Lupicínio: aí vai minha sugestão para corrigir o erro que mancha o hino do respeitável, grande e imortal Grêmio Foot-Ball Porto-Alegrense:

Até de táxi iremos
Para o que der e vier
Até mesmo se a bandeira for 2
Com o Grêmio, onde o Grêmio estiver

Fui!
A pé!


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