terça-feira, 28 de abril de 2009

O lamento dos sem nada...

Foto: Marco Aurélio Martins/Agência A Tarde
Por Carlos Eduardo Freitas [cadusongs@yahoo.com.br]

A manhã ensolarada tencionava ainda mais aquela cena insólita, que todos os olhos poderiam ver/
O difícil era crer/
Tamanha surpresa era testemunhar aquele povo, corajoso o bastante para aquilo fazer/

Como o sol que escalda o sertão do Nordeste brasileiro, não havia quem tivesse dinheiro/
Mas com fé no padroeiro/
Eles faziam um braseiro/
E dos seus ideais tinham zelo/
A ponto de o desespero não os incomodar/

A calçada de cimento/
Que nem um argueiro/
Servia de sustento para aquela ideologia alimentar/
Trapos em forma de roupas eram expostos no tempo/
Para tão rude sol secar/

Palhas, lonas e cordões/
Às vezes uns banheiros químicos, mas o banho era num cercadinho de galhos e madeira que a mãe natureza sem pressa lhes trás/
A cuia em uma das mãos/
Na outra, sabão/
E a companheira que um balde lhe traz/

Fumo, cachimbo e veias vermelhas no olhar/
O cheiro era intenso, que nem um peixeiro, após labutar e sem um banho tomar/
Aquele odor ia ligeiro às frágeis narinas aperrear/

Onde tem fumaça tem fogo, e o cinza do lugar/
Só servia para atenuar/
A cor de sangue que do estandarte deles ia brilhar/
Em vez de cruz, foice e enxada, pá e gadanho para a terra arar/

Mas terra é o que eles não têm/
E é por isso que vêm/
Na Seagri acampar/
Como um sopro de vida, a esperança implica, em saber relutar/
Espantando estereótipos, que os infortúnios sinóticos foram as pressas, pela mídia, lhes “agraciar”/

Os Sem Terra acampam/
E de novo destampam/
O vexame que há/
Num país de riquezas amplas/
Que nem mesmo as santas/
Saberiam explicar/
Como uma terra que planta, não sabe compartilhar/
Os louros que ganha, das mãos dos que só apanham e não têm um punhado de chão para também plantar/

*Carlos Eduardo Freitas é jornalista, assessor de imprensa da Associação dos Gestores Governamentais do Estado da Bahia e colaborador deste blog desde janeiro de 2009.

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