sexta-feira, 22 de maio de 2009

‘RUMÁLADISGRAÇA’ em quem ouve mp3 alto no 'buzú'

Foto: Anarkopagina.orgPor Carlos Eduardo Freitas* [cadusongs@yahoo.com.br]

O cancioneiro popular jamais, em nenhum tempo, ousou pensar em tão distinto, original e inimaginável eloqüente xingamento: Rumáladisgraça! Quando aquele ‘mala’ entra no buzú cheio, depois que a maior parte dos usuários do transporte público da capital baiana - que estão neste mesmo buzú - deixaram o trabalho, após uma jornada de 8h e mais uns quebrados, pega seu aparelho celular estéreo e coloca uma série de músicas em mp3, no volume máximo, se lixando para os demais passageiros... Para esse sujeito, a turma logo grita: “rumáladisgraça nesse miserê”!

Traduzindo... o que os irritados passageiros [estressados e cansados, na verdade] querem dizer é: “ajam violentamente com este homem, dêem umas boas porradas nele, para vê se ele se toca e abaixa ou desliga essa porcaria de som”! É que nós baianos temos um jeito [leia-se dialeto] todo especial de lidar com tais malas. Os orkuteiros de plantão já devem até ter uma comunidade intitulada “Rumáladisgraça nele” ou a mais clichê: “Eu odeio quem ouve mp3 alto no buzú”.

Mas, não é que esse povo que se relaciona pela internet tem razão! Só quem já vivenciou o fato sabe quão digno de repugnância e irritabilidade ele é. Têm umas pessoas que nasceram para sonorizar o mundo. Põem o som de casa no volume 40, tocando de ‘Rala a xana no asfalto’ a arrochas-releituras-de-clássicos-internacionais. Piores que estes, só os camaradas que fazem isso nos ônibus. A pessoa está querendo ler um bom livro, no enfadonho percurso de casa para o trabalho, os estudantes desesperados lendo suas dezenas de apostilas, os dorminhocos querendo tirar uma última sonequinha antes de começar a jornada de trabalho... E lá, nos lugares mais inusitados do buzú, o ‘mala’ com seu celular sony-ericsson [um dos mais altos] tocando de música evangélica a hip-hops paulistanos.

Há aquelas senhorinhas mais boazinhas, quase assistentes sociais, que amenizam: “Êi, ó o auê aí ô”! ‘Auê’, em bom baianês, significa baderna, barulho, ‘zoada’. Mas, os sujeitos do mp3 de celular são insistentes. Fingem até que estão dormindo, para não serem [imagine!] incomodados. Têm aqueles que até cantam juntos, no mesmo volume alto das canções. É por isso que, mesmo sendo extremamente contra a violência, este colunista faz coro aos mais raivosos: “Rumálaporra nesse mané”!

*Carlos Eduardo Freitas é jornalista, além de colaborador deste blog desde janeiro de 2009.

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