terça-feira, 30 de junho de 2009

Eu queria ser jornaleiro

Eu queria ser jornaleiro. Sim, estimado (a) leitor (a), é isso mesmo: jor-na-lei-ro, e não jornalista (não errei, sem querer, as 4 letras finais). Desde pequeno, lá nos idos de minha infância no Rio Grande do Sul, alimentei este sonho. Lembro que minha mãe me estimulava a ler as placas de publicidade das avenidas e ruas de Porto Alegre, de dentro do ônibus, sentado no colo dela, com o objetivo de me fazer tomar gosto pela leitura. Eu contava 8 anos de idade. Lá pelas tantas, vi um guri bem humilde, numa sinaleira da Avenida Assis Brasil. Ele oferecia um exemplar de Zero Hora enquanto o sinal vermelho interrompia o trânsito. Fiquei fascinado.

-Mãe, mãe! Bradava, clamando atenção.

- O que foi, Murilo?

- Eu quero ser aquilo ali! Apontava.

- Você quer ser o quê, meu filho?

- Eu quero entregar o jornal na sinaleira!

Minha mãe sorriu bastante. Os demais passageiros da linha Jardim Aparecida, da empresa Soul, a acompanhavam nas risadas. Mas eu falava sério. Estava decidido.

No auge de minha infância, a ingenuidade não me permitia ver as dificuldades dos jornaleiros. A falta de remuneração, a ausência de educação de boa parte das pessoas, os vidros fechados dos carros, o sol impiedoso, o vento gélido minuano, a chuva na cabeça. Que negócio fascinante este! Pensava. Sim, afinal, são eles, os jornaleiros, um dos primeiros representantes do povo a ter contato com a informação impressa.

Nem todos têm tempo para ir as bancas. Eles são fundamentais. Minha mãe, ainda recordo com a minha memória de elefante, não me reprimia:

- Então, seja meu filho, se é o que você quer. Mas com uma condição: seja o melhor jornaleiro do mundo!

E assim ficou eternizado em meu inconsciente. Quando as pessoas faziam aquela perguntinha típica que os adultos fazem às crianças (o que esse menininho lindinho quer ser quando crescer???), logo, um pequeno Murilo ávido respondia:

- Eu vou ser o melhor jornaleiro do mundo!

Bem, jornaleiro mesmo, eu só fui uma única vez. Foi há cerca de dois anos, já na faculdade de jornalismo, em Salvador, graças ao belo trabalho desempenhado pelo jornal acadêmico Fala Comunidade, coordenado pela jornalista e professora Márcia Guena. Nós escrevíamos para as pessoas da Estrada Velha do Aeroporto (EVA), uma das regiões mais assoladas pelos problemas sociais na capital baiana. Depois que a publicação era impressa, nós (repórteres-estudantes-jornaleiros) nos dirigíamos até os bairros integrantes da EVA para entregá-la às suas respectivas populações.

Mas o fato, meus amigos, é que quisera as circunstâncias, que eu não viesse a ser um jornaleiro - tampouco o melhor do mundo.

Na sexta-feira, 26 de junho de 2009, fui graduado como Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, pelo Centro Universitário Jorge Amado/UniJorge.

Eu que queria ser jornaleiro, me tornei jornalista.

Ah, quase que esqueço: continuo viajando, fascinado, sempre que vejo um jornaleiro na rua.

Nossas diferenças não são muitas, acredite! Nossa missão principal é a de informar a sociedade por meio de conteúdo de interesse público, embora o façamos de formas distintas.

E pouco importa se nós, jornalistas, somos acadêmicos, e eles, os jornaleiros, não. E que nós, jornalistas, tenhamos diploma, e eles, os jornaleiros, não. Não esqueçamos que neste "Brasil varonil", nosso diploma sequer é requisito para se trabalhar em algum meio de comunicação, destes, que vendem roncos, como diria o Tom Wolf.

Ai de mim! Por qual razão não seguimos as nossas inclinações infantis quando adultos?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Na Bahia, o pecado mora ao lado

Foto: Alex JordanLembra do filme "O pecado mora ao lado"? Pois é. Esta belezura de foto do meu camarada Alex Jordan é a síntese mais fiel desta famosa expressão. No bairro da Boca do Rio, na orla marítima de Salvador, uma casa noturna de shows (leia-se puteiro) fica bem coladinha a uma igreja evangélica! Imaginem só como é que devem funcionar os cultos nesta inusitada sede da Assembleia de Deus... O pastor, coitado, bradando contra as forças de Satanás que insistem na luxúria do prazer e do gozo total entre os drinks da Elite Night Show.
Já por outro lado, trata-se da oportunidade ideal para o arrependimento dos seres humanos, escravos das tentações da carne. O cara pode se perder a noite toda nos braços e pernas (e outros) das profissionais do sexo da "Elite", e, logo em seguida, adentrar nesta simpática igrejinha que vocês estão vendo, a fim de compartilhar do sangue do Senhor, botar a mão sobre a Bíblia e saldar todas as dívidas terrenas com as seguintes palavras: "Pai, desculpa, pois estou arrependido".
Eu fico tentando imaginar a cara das fiéis evangélicas quando dão de cara com as "meninas".
E ainda tem gente que tenta me convencer a ir embora da Bahia... Assim fica difícil. Se eu não viesse para esta terra, simplesmente deixaria essa vida para entrar na eternidade sem ter visto absolutamente nada.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Um critério de cor

Há quem diga que no Brasil não há racismo. Há quem diga que em Salvador não há racismo. Há quem acredite na mula sem cabeça, no curupira e no capitalista do papai noel. Todas essas constatações (ou chorumelas?) servem apenas para introduzir o relato de um fato que me ocorreu na segunda-feira, 22 de junho. Eu recém havia saído do trabalho e esperava o ônibus para ir para casa em um dos pontos do bairro Cidade Jardim - aquele mesmo que fica dentro do Candeal ou que o Candeal fica dentro dele (nunca descobri).
Juntamente comigo, cerca de 15 trabalhadores também aguardavam seus respectivos coletivos para retornarem ao lar depois de mais um dia de batente. Foi quando se aproximou um grupo de policiais militares, certamente convocados para reforçar a segurança da população na chamada "Operação São João", um mecanismo pontual para tentar coibir a violência em meio aos festejos juninos. Pois bem: eles fitaram as pessoas que estavam na parada de ônibus, dentre os quais, esta besta que vos escreve, e decidiram "encarnar" em dois cidadãos específicos (que não esta besta que vos escreve).
Eram dois homens com idade aproximada em 25 anos. Eles trajavam camisas de pano, bermudas, chinelos de dedo e tinham mochilas nas costas. Ah, quase que esqueço, eram negros também. Os PMs, então, revistaram a ambos, somente a eles. As demais pessoas que esperavam seus ônibus ficaram constrangidas com o constragimento daqueles dois rapazes. Ao levar em conta o que ouvi em suas "defesas", eles eram operários de uma das obras milionárias daquela região valorizada da Soterópolis. Logo, veio a suposição: trabalharam feito burros de carga o dia todo, carregaram peso, devem receber um salário de fome e, ainda por cima, são suspeitos de serem criminosos.
Depois de interrogatórios do tipo "cadê seus documentos?", "onde é que você mora" e "o que é que tem no bolso de dentro dessa mochila", os policiais militares deixam os caras em paz. Indignado, resolvo entrar no gamão:
- Senhores: estou aqui também e preciso ser revistado!
Surpresas e tensas, todas as pessoas que estão no ponto de ônibus me olham e, logo em seguida, direcionam seus olhares para os policiais, que também me fitam.
- A gente não quer te revistar. Não é você quem escolhe. Diz um dos PMs. Pegando o gancho dele, um dos colegas completa, insinuando:
- É que ele deve ter alguma coisa para querer ser revistado. Vamos revistá-lo, então.
Respondo, com novas questões: - E por qual razão eu não teria algo para ser revistado? Olhem a minha pasta! É preciso ter a pele escura para ser revistado?
Um dos militares, um soldado barrigudo e de bigode, começa a perder o controle:
- O que você quer dizer com isso? Está nos chamando de racistas?
Todos novamente me olham. Quando os ônibus estacionam no ponto para descarregar ou pegar mais passageiros, as pessoas botam a cabeça para fora da janela, a fim de acompanhar a discussão. Prossigo.
- Eu não afirmei que vocês são racistas. Eu perguntei se é preciso ter a pele escura para ser revistado, porque tem umas 20 pessoas aqui, e somente esses dois rapazes foram considerados suspeitos. E se eu tiver com cocaína aqui na minha pasta? Eu passo despercebido?
- Rapaz, você quer que a gente te leve preso por desacato a autoridade?
- Que desacato? Não estou desacatando ninguém, nem abusando de uma autoridade que eu não tenho. Estou fazendo perguntas a vocês, apenas. Sou jornalista, um ser curioso por natureza. Neste momento, torço para que os PMs estejam desinformados e não me ironizem, dizendo algo do tipo: "grande merda, seu diploma sequer é reconhecido..." Para a minha sorte, eles estão desinformados e devem achar que o tal do Gilmar Mendes foi o descobridor do Brasil.
O chefe dos militares não me dá crédito. Ordena aos colegas que me revistem. São 18h30 nas proximidades da Juracy Magalhães com a avenida ACM (qualquer semelhança é mera coincidência), quando, enfim, consigo ser revistado por dois PMs contrariados, que certamente só não me encheram de sopapos porque sou jornalista e tenho a pele clara.
Quando eles vão embora, os rapazes trabalhadores, suburbanos e negros chegam até mim e me cumprimentam, comentando o absurdo que acabaram de protagonizar, logo aqui, onde cerca de 80% da população é negra.
Chega o meu Estação Mussurunga. Entro no ônibus, procuro um lugar para me sentar e ligo o aparelho de MP4.
A música?
Que País é Esse, do Legião Urbana.

Deputado Paulo Pimenta (PT-RS) defende a obrigatoriedade do diploma para jornalistas

domingo, 14 de junho de 2009

O Galícia me emociona tanto ou mais que o Internacional

Foto: Alex Jordan - 13/6/09O Galícia é a minha cachaça. Quando cheguei para assumir a assessoria de comunicação do clube, há um pouco mais de dois anos, sequer imaginava que me identificaria tanto com o time fundado em 1933 pela colônia espanhola de Salvador. Na época (leia-se maio de 2007), eu precisava de um estágio para conciliar com o da TVE, logo, era para ser algo extremamente profissional, mas, pasmem, acabei me apaixonando pelo azulino.
Mas o que explica esse carinho que eu tenho pelo "granadeiro"? Se apaixonar pelo Internacional, clube do meu coração, campeão de absolutamente todos os títulos possíveis é tarefa fácil. Mas e quanto ao Galícia? Há 10 anos na segunda divisão do famigerado Campeonato Baiano, sem lenço e sem documento, com pouco apoio, com pouco tudo, o que explica?
Penso que só o amor explica. Virei torcedor também. Brigo contra tudo e contra todos pelo Galícia. Gosto desse negócio de optar por uma alternativa que não seja a central (p... de Bahia e Vitória!), estar ao lado de quem mais precisa, não por pena, mas por força das circunstâncias, afinal, o azulino é grande, sim senhores! Primeiro tricampeão baiano, cinco vezes campeão estadual, situado na região mais valorizada e bem localizada da cidade, enfim!
Tudo converge para que o Galícia torne a ser o que era antigamente. Se ainda não aconteceu, é porque alguém deve ter enterrado um sapo com a boca costurada lá no Parque Santiago! Sim, porque não é possível. É bola na trave, zagueiro tirando o gol de cima da linha, jogador expulso, juiz ladrão...
O fato é que hoje, sou um poço de sinceridade ao afirmar que o Galícia me emociona tanto ou mais que o Internacional. Deve ser porque eu vivo mais este primeiro, trabalho por ele, além de não estar morando mais no sul do Brasil. Outra coisa: as vitórias do azulino são comemoradas como títulos. As do Inter são tão corriqueiras... Quando o granadeiro perde, eu fico mal-humorado, brigo com a namorada, chuto o pau da barraca mesmo. Quando o colorado é derrotado, fico de certa forma tranquilo, porque sei que ele irá se recuperar no jogo seguinte.
Mas é mais que isso. Já tive propostas para ir para clubes melhores, por salários maiores, mas recusei. O carinho que eu tenho dos torcedores galicianos não tem preço. Desenvolver um trabalho importante nas condições que eu disponho, é um desafio bem mais atraente também.
E trabalhar numa instituição onde o coração bate mais forte é uma sensação sem igual. É indescritível em palavras.
São coisas do amor, eu sei.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Record lançará portal de notícias para concorrer com o G1

E a briga pela audiência na telinha entre as redes Globo e Record de televisão promete chegar a internet. Isso mesmo. Nesta semana, a assessoria de imprensa do grupo de comunicação de propriedade do bispo Edir Macedo anunciou que lançará um megaportal de notícias em outubro deste ano, intitulado R7.
Embora a proposta da Record seja semelhante ao portal da Globo, o G1, a empresa nega que o R7 será criado para concorrer com o meio de comunicação da vênus platinada. Alguém aí acredita? O empreendimento via web promete disponibilizar conteúdo original produzido por jornalistas tanto da Record como da Record News.

Amar é... trocar o futebol pela mulher


Por Xico Sá*

Amigo, homem que é homem muda até de sexo, mas não muda de time. Eis uma verdade absoluta, decantada e envelhecida em barris de carvalho ou aroeira. Uma vez Flamengo, sempre Flamengo, como no belo hino do Lamartine Babo. Uma vez com o Bahia, Bahêêêa século secolorum, amém. Vitória desde criancinha, Vitória até o fim dos dias. E assim por diante. Mesmo que o time do peito despenque ladeira abaixo e vire baba na terceirona.

Com a mulher, a conversa é outra amigo, por isso, aproveito a efeméride dos pombinhos, o tal Dia dos Namorados, para refletir seriamente – ô cronista sério da bubônica – sobre o tema. Uma gata pode muito bem trocar de time como quem troca de sutiã ou de calcinha. Não há nada de errado nisso, muito pelo contrário: o movimento é sexy, seja qual for o esporte, seja qual for à onda.

A metamorfose do mulherio com o futebol é uma graça. A mulher muda de time muitas vezes como presente para o novo homem que entrou na sua vida. Que mal há nisso? Mal algum, pelo que eu saiba. É um ato de carinho, de etiqueta amorosa, jamais de submissão ou indecência oportunista.

Sim, algumas exageram. No mesmo semestre, viajam pelo certame carioca, paulista e baiano. Vão do Corinthians ao Flu de Feira, passando pelo Vitória da Conquista, Madre de Deus!

Quero ver dobrar, amigo, é uma torcedora do velho Galícia. Namorei com uma da espécie, aqui em São Paulo, mas a teimosa cigana baiana de sangue espanhol, não abria uma rosca, sempre firme com os granadeiros azulinos. Nem por brincadeira torcia pelo Santos, escrete da minha admiração e estima. E repare, amigo, era o Peixe dos Meninos da Vila, Robinho, Diego, Etc.

Acontece, mas o comum é a fêmea volúvel em matéria de ludopédio, a moça generosa, a nega cheia de agrados para o seu homem, aquele velho torcedor doente, sempre ligado em magote de machos correndo atrás de uma bola. Dedicada, a cria da nossa costela nos acompanha ao estádio, bota a camisa do nosso time, faz piada com os adversários e ainda nos consola quando a vida, essa miséria, nos manda uma bola nas costas. Não há movimento mais sexy mesmo do que essa vira-casaca das gazelas par agradar o seu mancebo.

E que não me levem a mal as feministas mais intransigentes. É que mulher é mais sábia mesmo, sabe que um time de futebol não é para ser levado tão a sério, tão ao pé da letra da passionalidade besta e desenfreada. Isso é coisa nossa, machos e eternos meninos do mundo da pelota e da guerra de espadas.

Na semana dos pombinhos, amigo, você bem que podia retribuir tanto carinho e generosidade trocando os 90 minutos de sofrimento com o seu time do coração por igual período de amor intenso, falo daquele sexo selvagem do começo dos romances, aquele de deixar os vizinhos com inveja dos gritos e sussurros, uma transa com todos os bambuais do kama-sutra, coisa séria, não aquele sexozinho meia-boca como o feito aqui em casa.

E olhe que a culpa não é da santa que me aguenta! Boa sorte e até a próxima!

*Xico Sá é jornalista, autor de “Modos de macho e modinhas de fêmea".

Crônica publicada na página 43 do jornal Correio* de quarta-feira, 10 de junho.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

A Idade do Céu





Composição: Jorge Drexler
Versão e interpretação: Paulinho Moska

Não somos mais
Que uma gota de luz
Uma estrela que cai
Uma fagulha tão só
Na idade do céu...

Não somos o...
Que queríamos ser
Somos um breve pulsar
Em um silêncio antigo
Com a idade do céu...

Calma!Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu...

Oh! Oh!...Oh! Oh!

Não somos mais
Que um punhado de mar
Uma piada de Deus
Um capricho do sol
No jardim do céu...

Não damos pé
Entre tanto tic tac
Entre tanto Big Bang
Somos um grão de sal
No mar do céu...

Calma!Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu
A mesma idade
Que a idade do céu...

Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!Ah! Ah! Ah!Oh! Oh! Oh! Oh!Ah! Ah!Oh! Oh! Oh! Oh! Oh!...Calma!

Tudo está em calma
Deixe que o beijo dure
Deixe que o tempo cure
Deixe que a alma
Tenha a mesma idade
Que a idade do céu
A mesma idade
Que a idade do céu...(2x)
A mesma idade
Que a idade do céu...

Marina

Foto: Cassio DornelesPor Ruy Espinheira Filho

Meus olhos testemunham
a invisibilidade das ondinas,
a lenta morte dos arrecifes
e os canhões de Amaralina.

Vou, a passo gnominado,
pisando a areia fina da praia.
Pombas sobrevoam
os canhões de Amaralina.

Parece a vida estar completa
na paz que o azul ensina.
A brisa ilude a vigilância
dos canhões de Amaralina.

Nem tua ausência, amor, perturba
esta alegria matutina
onde só há o claro e o suave...
(E os canhões de Amaralina?).

Tudo está certo: mar, coqueiros,
aquela nuvem pequenina...
Mas - o que querem na paisagem
os canhões de Amaralina?

Juazeiro e Petrolina

Foto: Alex Jordan - 7/6/09Juazeiro e Petrolina. Estão aí duas cidades que eu gosto muito. Uma é baiana, a outra, pernambucana. Uma é organizadinha, a outra, uma baderna total. Uma é o oposto da outra, embora sejam vizinhas, separadas apenas pelo "velho" e quase transposto Chico - mas elas, e tudo o que as envolvem, como a cultura e o povo em si se completam.

Estive em Juazeiro e Petrolina pela terceira vez, em menos de nove meses, no último final de semana. Fui para cobrir o jogo do Galícia contra o Juazeiro pelo Campeonato Baiano da 2ª Divisão, logo, estava por lá a trabalho. Todavia, sempre se arranja um tempinho para conhecer um pouco dos lugares por onde se viaja.

Na baiana Juazeiro, fiquei sabendo que a população local tem o inusitado hábito de comer acarajé com maionese. Em Salvador, a cerca de 600 quilômetros da região norte da Bahia, este costume petrolino-juazeirense soaria como um verdadeiro sacrilégio. Em Petrolina, eles também saboreiam o quitute típico do estado vizinho com maionese!

Em uma das paradas do ônibus que levou a delegação do Galícia para Juazeiro, ainda no sábado à noite, senti vontade de beber café (viciado que sou). Cheguei em uma dessas lanchonetes de beira de estrada e fiz o meu pedido para a atendente. Estava uma delícia. Fascinado pela cafeína que sou, pedi um repeteco, ao que a menina atendeu prontamente, derramando mais do "ouro negro" no singelo copinho de vidro - desses que bebemos cerveja nos bares de Salvador.

Antes de ir embora, perguntei quanto deveria pagar pelo café. A resposta da funcionária da lanchonete: "o senhor não precisa pagar nada". Perguntei: como assim? Eu usei o café de vocês. É justo que haja uma compensação por isso. Mas não houve acordo. Não aceitaram o meu dinheiro. Surpreso e envergonhado que estava, comprei uma lata de refrigerante (mesmo sem vontade), apenas para gastar com alguma coisa. Aproveitei para oferecer uma gorjeta por fora a atendente, ao que ela agradeceu com um daqueles sorrisos bonitos e humildes da gente do interior. Agradeci bastante o gesto de gentileza que recebi.

Em Salvador, desde o início desta segunda-feira, 8 de junho, não precisei de menos de duas horas para me aborrecer, graças ao espetáculo dos engarrafamentos da Paralela e da Bonocô. Que inferno!!!

Acho que quero ficar no interior.

Acho que quero ficar no interior rodeado de carrancas mudas e imponentes, fabricadas pelo povo pacato das margens do São Francisco.

Acho que nasci para ser um emigrante.


Na reta final antes do TCC

Foto: Murilo Gitel - 7/6/09Buenas!
Depois de um bom tempo afastado de todos vocês, devido à proximidade da data de entrega do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) que fiz em parceria com Alex Jordan, nos encontramos novamente!
Nos últimos meses, vivi quase que exclusivamente para o livro-reportagem intitulado Codinome "Baixo": comunista, brasileiro, revolucionário. Perdi algumas noites de sono para aprimorar este trabalho, que será entregue daqui a pouco aos professores-mestres.
Em uma semana, Alex e eu apresentaremos o nosso TCC à banca. Será um momento bastante especial - o último passo antes da coroação por esses quatro anos e meio de curso. Lutei muito para chegar até aqui e é muito boa a sensação de que falta pouco para ser recompensado.
Para completar, Benjamim José Ferreira de Souza, o "Baixo", estará presente no dia de nossa apresentação (provavelmente dia 18 deste mês). Ele lutou muito durante as duas décadas de ditadura militar, arriscando por diversas vezes a própria vida pela liberdade de expressão, num país assolado por tantas iniquidades sociais como o nosso. Será um momento de grande emoção, porque deveremos encerrar nossa explanação com a leitura do poema "Rondó da Liberdade", de autoria do revolucionário baiano Carlos Marighella, assassinado pelos militares em 1969.
Depois de formado, nossos contatos por aqui serão mais constantes, como tem que ser.