segunda-feira, 20 de julho de 2009

O FENÔMENO DOS "BUZÚS": EDSON LOUCO POR MÚSICA

Charge: Carlos Eduardo Freitas
Por Carlos Eduardo Freitas* [cadusongs@yahoo.com.br]
Depois do primeiro acorde, do cantarolar das primeiras melodias e das performáticas contorcidas no corpo, aquela viagem no "buzú" [ônibus que faz o transporte público, para os mais polidos] não foi mais a mesma. Era uma noite fria de sexta-feira. O ônibus saíra quase cheio do Terminal Rodoviário de Camaçari, com destino a Lapa, na capital baiana. Já se passava das 20h.

De canção evangélica, passando por baladas nacionais dos anos de 1990 até clássicos dance internacionais, aquela viagem foi mesmo insólita. Com uma cabeleira de dar inveja à Maria Betânia, Gal Costa e Vanessinha da Mata, ele, Edson Louco Por Música, como se auto-define artisticamente, deu um verdadeiro show. É fato que o povo se divertiu mais com as caras e bocas, sua apresentação digna de um pop star, mas ele também cantava.

O tal artista de rua ganhou até um trio de baking vocal: três senhores, que voltavam animadinhos de mais uma jornada de trabalho fez coro às baladas românticas executadas por Edson LPM [Louco Por Música – lembram, né?!].

No início, quando ainda afinava seu violão, algumas senhoras, que estavam sentadas próximas a ele, se distanciaram. Acho que já previam a cantoria e preferiram ‘fugir do barulho’. Mas, o trio de cantadores, que se somaram à apresentação de Edson LPM, já mostrou serviço desde o início. O ‘músico de buzú’ dedilhava uma famosa canção de Fagner, e eles já o interpelavam cantando em coro: “Quem dera ser um peixe, para em seu límpido aquário mergulhar, fazer borbulhas de amor pra te encontrar...”.

O ápice, o clímax do ‘show’, foi mesmo quando ele tocou, em inglês bem baiano, o clássico
Go Out And Get It, de Elton John. Os passageiros foram ao delírio quando, empolgado, o motorista do ônibus deu uma de cenógrafo e fez jogo de luz dentro do veículo, dando um ar de discoteca, na escura Via Parafuso. Foi fantástico. Os risos foram aos montes. A diversão foi impagável.

Após cerca de 20 minutos de apresentação, o rapaz, revelou sua história. “Boa noite, gente! Eu sou Edson Louco Por Música. Durante o dia, eu vendo mingau, para ajudar no meu sustento. À noite, faço esse trabalho nos ônibus”, e continuava: “Já participei do programa Ídolos, mas não passei. Mas, continuo tentando realizar meu sonho, que é ser um verdadeiro cantor”. Ele deixou o telefone de contato, para quem quiser levar o intrépido show dele para festinhas de aniversário, churrasco com os amigos, entre outros.

Essa foi mais uma história verídica daqueles que fazem enfadonhas viagens de ônibus, em terras metropolitanas da grande Soterópolis, um passatempo divertido. Viva Edson Louco Por Músico, o fenômeno dos Buzús!
*Carlos Eduardo Freitas é jornalista e escritor, autor de "Histórias de EVA: mais uma vez, toque de recolher no Buraco da Pedra da Onça", livro-reportagem em parceria com André Luís Gomes e André Frutuoso que retrata a história da Estrada Velha do Aeroporto, região de Salvador. Ele contribui para o blog do Murilo Gitel desde janeiro de 2009.

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