sábado, 26 de setembro de 2009

Opinião

"O macho/adulto/branco/sempre no comando/o resto é o resto..." O Estrangeiro (Caetano Veloso).
Segundo a imprensa do Mato Grosso do Sul, o governador deste estado, André Puccinelli se referiu ao ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, como "viado" e "fumador de maconha", durante reunião com empresários, na semana passada.
Por meio de nota, a assessoria do governo sul-matogrossense se desculpou, ao afirmar que a declaração do governador Puccinelli foi feita em "tom de brincadeira".
Ao comentar a declaração do governador do Mato Grosso do Sul, Minc o chamou de desequilibrado, mas adiantou que não irá processá-lo. “Há, de um lado, o desequilíbrio ambiental, que ele provocaria se a gente deixasse que destruísse o Pantanal como queria, e, por outro lado, há o desequilíbrio patológico”, afirmou o ministro.
A minha opinião sobre este assunto é a seguinte: como é possível, em pleno século 21, que as pessoas procurem agredir as outras por meio de preconceitos tão ignorantes e ultrapassados? Será que a sexualidade e o uso de determinada substância são suficientes para medir o caráter do ser humano? Estes são os critérios? Será que não existem homossexuais e maconheiros mais dignos do que o governador Puccinelli neste mundo?
Eu não afirmo, de forma alguma, que o ministro Minc é homossexual e/ou usuário de maconha, como o governador citado o fez. Agora, se ele for, ninguém deveria ter nada a ver com isso, até porque, pelo que se sabe, o chefe da pasta ambiental do governo federal paga seus impostos tanto quanto aqueles cidadãos purificados, unicamente abençoados por deus, e bonitos por natureza...
As críticas feitas a Carlos Minc deveriam ser limitadas a sua gestão como homem público.
Mas o homofóbico e moralista governador do Mato Grosso do Sul não evoluiu o bastante para entender esse tipo de assunto.
Encerro com outra afirmação brilhante de Carlos Minc sobre a polêmica:
“São os eleitores que vão julgar se uma pessoa com esse nível de desequilíbrio está apta a exercer o governo do estado. Eu não vou processá-lo”.
É preciso manter a grandeza de espírito mesmo quando se é agredido.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Novidades

Caros amigos,
como vocês podem observar, este blog deu uma renovada no cabeçalho da página - que agora conta com uma foto do blogueiro (a pedidos). Aliás, a fotografia é de autoria do meu camarada Alex Jordan, e remete à cabine de imprensa do estádio Governador Roberto Santos (Metropolitano de Pituaçu).
Até o final do ano, este blog migrará para o meu site oficial[www.murilogitel.com], que já está sendo desenvolvido.
Abraços!

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Rua dos Cataventos - por Mário Quintana*

Céu de Porto Alegre/Foto: Vejo tudo e não morro

Para Juliano, Geovane, Emerson e Jéferson (in memorian)

Gadêa... Pelichek... Sebastião... Lobo Alvim...
Ah, meus velhos camaradas!
Aonde foram vocês? Onde é que estão
Aquelas nossas ideiais noitadas?
Fiquei sozinho... Mas não creio, não,
Estejam nossas almas separadas!
Às vezes sinto aqui, nestas calçadas,
O passo amigo de vocês... E então

Não me constranjo de sentir-me alegre,
De amar a vida assim,
por mais que ela nos minta...
E no meu romantismo vagabundo
Eu sei que nestes céus de Porto Alegre
é para nós que inda São Pedro pinta
Os mais belos crepúsculos do mundo!...

*Excerto nº 14 do livro A Rua dos Cataventos. Porto Alegre: Globo, 1940; Editora da UFRGS, 1992.

domingo, 20 de setembro de 2009

Circo para poucos


No engarrafamento da Paralela, eu vejo os malabaristas do sinal vermelho.

Eles, os artistas da bola, do fogo e dos cocos são as crianças do Bairro da Paz.

As crianças do Bairro da Paz estiveram próximas e distantes do Cirque du Soleil.

Longe do público elegante, longe das pipocas caras e do estacionamento de carros bonitos.

As crianças do Bairro da Paz não vão ao circo, como as outras, porque precisam improvisar um circo no asfalto para sobreviver.

Filhas da miséria, elas não espalham para os amigos que estão próximas ou dentro do Cirque du Soleil.

É que a beleza do espetáculo é para poucos. Assim como a beleza da vida.

Dos parabéns ao vencedor


Não foi um jogo brilhante, o Vitória e Inter de sábado, 19 de setembro, no Barradão, mas foi uma boa partida. No primeiro tempo, o Internacional foi melhor, marcou os meias Leandro Domingues e Ramon por meio de Guinãzu e Sandro, manteve a posse de bola e criou as melhores chances de gol, todavia, deixou a objetividade de lado, deixando de fazer o mais importante do futebol: os gols. Alecsandro errou um gol incrível, graças a competência do bom goleiro colombiano Viáfara.

Já na segunda etapa, o rubro-negro baiano "passeou" em campo. O sistema 4-4-2 implantado pelo técnico Vágner Mancini vingou, a ponto de os meias colorados D'Alessandro e Andrezinho sucumbirem diante do poder de marcação dos volantes do Vitória, Vanderson e Uelliton. Como se não bastasse, este último abriu o marcador, depois de cobrança de escanteio perfeita de Ramon. O gol dos donos da casa abalou demais os gaúchos, que emocionalmente, se perderam em campo. Para completar, o zagueiro Índio fez um pênalti infantil em Róger, que converteu a cobrança e deu números finais ao jogo.

O Vitória, quase imbatível no Barradão (já que só o São Paulo o derrotou), não foi brilhante, mas mereceu de todo o triunfo.

Resta aos colorados, ainda na vice-liderança do Brasileirão, parabenizar a Polícia Militar da Bahia, em especial a Rondesp, pela escolta aos torcedores do time gaúcho desde o Centro de Tradições até o estádio. Nenhuma ocorrência policial foi registrada e a paz reinou.

Meus parabéns aos meus amigos queridos que torcem pelo Vitória, como Lívio, Vital e Dr. Araken.

O futebol é fascinante por isso. Nem sempre o melhor ganha.

sábado, 19 de setembro de 2009

Expectativa de um grande jogo

Vitória e Internacional possuem boas condições para protagonizarem um grande jogo neste sábado, 19 de setembro, a partir das 18h30, no estádio Barradão. O rubro-negro baiano joga em casa, onde tem sido praticamente invencível, afinal, só perdeu para o São Paulo em seus domínios, pelo Campeonato Brasileiro. Mais do que isso: vem de triunfo contra o líder da competição (3 a 2 sobre o Palmeiras), em partida realizada no último final de semana. Soma-se aí a situação complicada do rival Bahia na Série B. É uma tarde/noite para 25 mil pessoas na "toca do leão".
O Inter é o atual vice-líder do Brasileirão e chega a liderança até mesmo com um empate na partida de logo mais - já que o Palmeiras só joga na quarta-feira, 23. O colorado perdeu para o Cruzeiro no domingo passado, em Porto Alegre (3 a 2), e precisa de um bom resultado aqui em Salvador para continuar sonhando com o título. Ao seu lado, terá o apoio da imensa colônia gaúcha presente na capital baiana - em plena véspera da data que relembra a Revolução Farroupilha, celebrada amanhã, 20.
Time por time, penso que o Inter tem mais qualidade do que o Vitória, o que não garante os "três pontos" a ninguém, já sabemos. Não é a toa que o colorado briga pelo título, enquanto os baianos têm muitas dificuldades para sair de uma posição intermediária na tabela. Jogadores como o 'selecionável' Sandro, D'Alessandro, Andrezinho, Taison e Alecsandro podem decidir o jogo a qualquer momento. Do outro lado, os diferenciais são os meias Ramon e Leandro Domingues - ambos experientes e extremamente técnicos. Se estiver em um dia bom, o "el loko" Apodi, um lateral-direito inconstante, porém, de muita velocidade no apoio, pode acrescentar muito ao rubro-negro.
Os técnicos Vágner Mancini e Tite, do Vitória e do Internacional, respectivamente, escalaram suas equipes no tradicional 4-4-2, esquema de jogo que conta com dois volantes na contenção e dois meias ofensivos. Será que Domingues e Ramon produzirão mais do que D'Alessandro e Andrezinho? E mais a frente, Taison e Alecsandro terão mais vantagem sobre a defesa adversária do que Neto Berola e Roger? Será que o rubro-negro conseguirá conter as prováveis investidas de Kléber às costas do sempre ofensivo Apodi?
Esses e outros questionamentos só encontrarão respostas no Barradão, logo mais.
Quero ver de perto.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Um sábado especial


Este sábado, 19 de setembro, é um dia mais do que especial para os gaúchos que moram em Salvador, como este blogueiro que vos escreve - é um dia necessário. Em plena Semana Farroupilha, às vésperas do 20 de setembro, data em que a paz foi selada na Guerra dos Farrapos (1835-1845), o Internacional vem a capital baiana, para enfrentar o Vitória pelo Campeonato Brasileiro.

A programação inclui churrasco no Centro Gaúcho da Bahia, situado no bairro Boca do Rio, em Salvador. Depois do almoço, já por volta das 15h30, dois ônibus de viagem levarão os colorados até o estádio Manoel Barradas (Barradão), palco da 'peleia' entre gaúchos e baianos a partir das 18h30. A Polícia Militar da Bahia fará a nossa escolta tanto na ida como no retorno, como forma de prevenção a possíveis confrontos com os torcedores da casa (majoritários).

Trata-se de um dia muito especial, reafirmo. Um sábado para nós rio-grandenses ouvirmos a música da nossa terra, dividir os feitos de nossa gente, falar dos parentes que lá permanecem, e de todos os laços que nos unem a eterna Província de São Pedro.

Espero, sinceramente, que a paz reine no Barradão. Torço para que a civilidade esteja com rubro-negros e alvirrubros. Não há mais cabimento para os conflitos nos estádios. Precisamos estar desarmados. Queremos paz. Desejamos as belas jogadas de D'Alessandro, Taison, Ramon e Leandro Domingues. Festejaremos nossas cores e bandeiras preferidas, mas sem inflamarmos a fúria impulsiva do outro. Deixaremos os foguetes e demais explosivos de fora da festa, porque barulho algum deve ser mais efusivo do que o dos nossos gritos. Gritos de amor e de paz.

Paz semelhante a selada em Dom Pedrito (RS), terra dos meus avós, há 174 anos.

Nós precisamos é de uma revolução na mentalidade.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Crônica de um racismo desnudado por si mesmo

Por Carlos Eduardo Freitas [cadusongs@yahoo.com.br]

Aproveitando-se do ‘gancho jornalístico’, como diria um dos jargões da profissão, divagarei, em meia dúzia de linhas não tão tortuosas, nem tão pouco acertadas, minhas reflexões sobre a aprovação na Câmara dos Deputados, em Brasília, na semana passada, do Estatuto da Igualdade Racial – minimizado pelos caprichos senhoris da branquitude, agora oposicionista, dos velhos pe-fe-les (de PFL, hoje Democratas, ou apenas Demo, ops, DEM)!

Balizando minha fala por uma irrepreensível crítica de Edson Lopes Cardoso, do Jornal Irohin, gostaria de contar-lhes uma história real, mas que pareceria com roteiro do Casseta e Planeta, se não fosse o teor cruel por trás dele. Antes de qualquer coisa, destacarei a seguinte citação do artigo de Edson: "fato é que os negros vivem em um mundo em que se sabe de antemão muita coisa sobre eles. Impressiona a quantidade de informação que o olhar racista pode colher em um rosto negro. Os negros são no Brasil a evidência pública de um conjunto de delitos”.

Salvador, tradicional sol a pino, e uma viagem supostamente tranquila em um buzú – que os mais impolutos cismam em chamar de ônibus que faz o transporte público na capital baiana. Tudo ia bem até um jovem negro, aparentando ter uns 19 anos de idade, levantar-se da poltrona onde estava sentado ao fundo do coletivo, que saíra há sete minutos da Estação Mussurunga, rumo à Lapa.

O pânico se apoderou da maioria dos poucos passageiros (perdão pela gafe gramatical!) que viajavam naquele buzú. O jovem negro ficou próximo ao motorista, com cara de poucos amigos, em – como diriam os policiais – ‘atitude suspeita’. As mulheres agarravam suas bolsas, esbugalhavam os olhos, tremiam internamente. Esperavam que em uma fração de segundos aquele jovem anunciasse o assalto!

A tensão aumentara. O jovem puxou a cigarra, pedindo parada para o próximo ponto - um que dá acesso ao Bairro da Paz (estereotipadamente conhecido pelos soteropolitanos como um dos mais violentos da cidade). Os elementos colhidos, preconceituosamente, daquele rosto negro se concretizavam. ‘Ele olhava desconfiado para trás’, parecia mesmo que iria ‘aprontar algo’.

Momento de frio na barriga. O jovem negro se preparou para saltar do ônibus – ‘é agora’?! “Tcharam! Peguei vocês, hein! Estavam morrendo de medo, achando que eu ia assaltar o buzu, né?! Bonito!...” – aquele jovem negro esculachou em tom de ironia, deboche e repreensão. Ele, apenas, entrou no jogo racista daquelas mentes que o pré-julgavam e foi à forra quando viu a cara de bocós que eles fizeram ao perceberem-se desnudados em seu preconceito racial.

Sem mais.
*Carlos Eduardo Freitas é jornalista e escritor. Colabora com este Blog desde janeiro de 2009.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

EcoD conquista o título do TOP BLOG 2009 na categoria Sustentabilidade

Fábio Góis, editor-chefe do EcoD recebe o troféu em cerimônia realizada em SPA lista era longa e variada. Durante cinco meses, 12 mil blogs de todo o Brasil foram avaliados por leitores e por um júri acadêmico especializado para decidir os TOP1 da blogosfera brasileira em 12 categorias distintas. A primeira edição do prêmio TOP BLOG foi concluída na noite do dia 12 de setembro, no auditório da Universidade Paulista do bairro Paraíso em São Paulo, quando reuniu centenas de blogueiros de diversas partes do país. O EcoD esteve presente e conquistou o reconhecimento com o título na categoria Sustentabilidade – Blog Corporativo, de acordo com a votação do Júri Acadêmico, e TOP 2 na Votação Popular.


Da esq. para a dir. Murilo Gitel, Priscila Letieres, Marina Martins e Clara Corrêa - equipe TOP 1.

O EcoD teve grande satisfação em poder concorrer nesta categoria e compartilhar com tantos parceiros a oportunidade de interagir com um público interessado e comprometido com o conteúdo voltado para a sustentabilidade. O resultado final é um verdadeiro estímulo por ter sido uma resposta de nossos leitores e de um júri especializado no formato que o portal EcoD oferece. É também um compromisso para seguirmos aperfeiçoando nosso trabalho e missão de levar informações sobre o desenvolvimento sustentável para o maior número de pessoas possíveis.

Em menos de um ano disponível na internet, o portal EcoDesenvolvimento.org já conquista o seu primeiro prêmio em nível nacional. Sem dúvida alguma, é uma satisfação enorme integrar este time de profissionais tão competentes, que não fazem jornalismo apenas para vender, mas sim para informar os cidadãos por meio de conteúdo de interesse público.

Sim, é possível.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Da série "Contos-Curtos-que-eu-publicaria-no-Twitter-mas-tenho preguiça"

Foto: sxc.hu
Decisão

Nunca se viram antes, mas aquele olhar trocado no ponto dispensava grande vivência.

Algo nele pedia que ficasse. Algo nela queria que ele ficasse. Mas ele entrou na lotação que veio.

Samba e amor...



Composição: Chico Buarque
Interpretação: Bebel Gilberto

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade que arde
E apressa o dia de amanhã

De madrugada a gente 'inda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O trânsito contorna, a nossa cama, reclama
Do nosso eterno espreguiçar

No colo da bem vinda companheira
No corpo do bendito violão
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação

Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade. Que alarde!
Será que é tão difícil amanhecer?

Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Razões para preferir Nilmar

Espero que a atuação do atacante Nilmar na vitória da Seleção Brasileira diante da chilena, por 4x2, na noite desta quarta-feira, 9 de setembro, em Salvador, em partida válida pelas Eliminatórias da Copa de 2010, tenha sido suficiente para o técnico Dunga entender que este jogador merece a vaga de titular ocupada até então por Robinho, ao lado de Luís Fabiano.

Foram três gols importantes e mais a participação no gol de Júlio Batista, fora a disposição e garra demonstradas durante toda a partida. Ao contrário do colega mais famoso, que tem jogado uma bolinha de dar sono há muito tempo, o participativo e eficiente Nilmar tem fome de bola, causa um verdadeiro alvoroço nas defesas adversárias e já balançou as redes inimigas 5 vezes, em apenas 6 chances que teve (convocações).

Robinho, que é dotado sim de grande potencial, precisa se preparar melhor para servir a Seleção Brasileira. Um tempo seria essencial, penso eu, até porque não vejo nem objetividade, tampouco tesão em vestir a camisa canarinho por parte desse jogador, que por sinal vive um mal momento em seu time, o Manchester City, da Inglaterra. Jogar só apoiado no nome não dá.

Dunga, se for menos teimoso e mais justo, dará a César o que é de César, até porque a convicção burra nada mais é do que a teimosia disfarçada.

Em tempo: hoje pela manhã, entre amigos que projetavam que Adriano seria o destaque do jogo, eu antecipava: que nada, prestem a atenção em Nilmar... Eles sorriram, e atribuíram minha opinião ao fato de que este último foi um dos grandes ídolos recentes do Internacional, clube de minha preferência.
Está aí.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Da série "Contos-Curtos-que-eu-publicaria-no-Twitter-mas-tenho preguiça"

Foto: Caucas


Ela queria ser feliz.

Hoje, ficaria contente se passasse num concurso público.

Crônica de uma policial exemplar ou quando a boa índole extrapola a farda e se torna exemplo geral

Soldado Andrade (à esq.)/Foto: Mônica NogueiraPor Carlos Eduardo Freitas* [cadusongs@yahoo.com.br]

‘Marcha soldado, cabeça de papel, se não marchar direito...”! Definitivamente, os tempos mudaram e os ‘soldadinhos de papel’ já não são mais os mesmos. Atualmente, salvo as raríssimas exceções, a população vive amedrontada, tanto com os bandidos, como com a atitude de certos policiais. Hoje, porém, o destaque será dado exatamente às raras exceções. Pois, no mundo dos valores distorcidos, quando nos deparamos com aqueles eu realmente valem, chegamos a nos espantar.

O fato, verídico, se deu em uma cidade que compõe a Região Metropolitana de Salvador: Camaçari. Com seus mais de 200 mil habitantes, o município, entre suas Glebas e seus Phocs, jamais poderia imaginar que, de tão inusitado, parecia irreal.

O sol se punha, dando ao final da tarde aquele ar de saudosismo magistral. Um degradé em tons brandos se formava no horizonte... E lá, em uma discreta rua do bairro estranhamente chamado de Lama Preta, os poucos raios de sol, que ainda restavam, refletiam uma luz advinda de uma bem asseada janela. Neste lugar, de uns poucos metros quadrados, não era apenas a limpeza que chamava a atenção, mas sim quem executava uma cuidadosa faxina: uma policial militar, fardada.


Foto: Mônica Nogueira

Mas, não era uma simples policial militar, era Cláudia Regina Andrade Jesus Souza - ou Soldado Andrade. Atenta ao movimento na rua, ela se desdobrava entre fazer seu papel de vigilante pela segurança da população e de zeladora (de quem zela, e não a figura chamada ‘diarista’) do seu ambiente de trabalho: o Módulo Policial do lugar. A Soldado Andrade bem que merecia uma medalha de honra ao mérito, pois fazia daquele módulo sem estrutura um local limpo e digno de ser habitado por seres humanos, de farda. Mas, ela preferia o anonimato da modéstia e ainda atribuía o ato de nobreza ao colega de plantão, o Soldado J. Souza.

É sabido que muitos agregados à corporação militar têm seus ‘pecados’, suas obscuridades. Mas, é enaltecedor para um cidadão comum, que paga suas contas e cumpre com suas obrigações cíveis presenciar tal cena. A Soldado Andrade, sem se preocupar com patente ou coisas derivadas, limpava os vidros do módulo, com perfeição. Coisa que não se vê acontecer no funcionalismo público ou mesmo em outros ambientes da própria polícia. Mas, Andrade, com os seus 35 anos de idade e 12 de profissão, casada, mãe de uma filha de 10 anos, não se assustava com sua própria atitude. Aquilo para ela era normal: “Faço isso, porque gosto de estar em ambientes limpos. Me preocupo com a impressão que as pessoas têm do meu ambiente de trabalho, mesmo sendo este um Módulo Policial”.

Surpreendendo ainda mais, a policial militar ainda afirmara: “Não perco minha autoridade policial por higienizar o lugar”. Como pensamentos assim fazem falta nos dias de hoje, nos dias de sujeira geral no Senado, nas CPIs e negociatas interpartidárias no nosso Brasil varonil... Claro que a organização Militar precisa ter seus funcionários que cuidem da faxina, mas, como diria um grande pensador: “Em terra de paca, tatu caminha dentro”. Traduzindo: na falta de estrutura, prevalece o bom senso e a boa vontade. Esta policial é um exemplo. Exemplo de como podemos ser resilientes e fazer das dificuldades um trampolim para mostrarmos nossa nobreza de espírito.

Essa história, repito, é verídica e foi retirada de uma matéria publicada em um jornal da Região Metropolitana de Salvador, o Camaçari Fatos e Fotos.


*Carlos Eduardo Freitas é jornalista. Colabora com este Blog desde janeiro de 2009.