Minha amada Mary,
talvez você não entenda o meu silêncio.
Entretanto, sinto que você também está quieta, porque esses meus dias silenciosos também são seus.
Saiba, porém, que é impossível para mim fazer qualquer coisa sem você - e que eu preciso de você em minha vida diária.
Num dia desses, encontrei o nosso amigo Ryder em um quarto sem calefação.
Tudo estava sujo e desarrumado ao seu redor, mas sinto que ele resolveu viver apenas da maneira que sempre desejou.
Tem dinheiro, mas não pensa nisto.
Sua mente não está mais neste planeta e vaga além de seus próprios sonhos.
Ele leu um poema que escrevi, e chorou. Então, disse:
- É belíssimo! Demais para mim... Não sou digno de lê-lo...
Ficou um pouco em silêncio, e depois tornou a falar:
- Já pensei em mandar uma carta para você, mas nunca fiz isso, porque é necessário que a minha alma se mova de lugar, antes que eu escreva...
Gibran
*Gibran Khalil Gibran nasceu em Besharri, ao Norte do Líbano, em 1883, e morreu em Nova York, em 1931. Autor de "O Profeta", um dos vinte livros mais lidos do mundo até hoje, o "Amado Mestre", como ficou carinhosamente conhecido também foi desenhista e pintor, sendo o aluno predileto de Rodin. Também foi filósofo e poeta.
Mary Haskell, tida pelos estudiosos de sua obra como o maior amor da vida de Gibran, foi uma professora norte-americana que, ao conhecer a obra do artista, abriu as portas do jovem libanês para o sucesso no mundo profissional, ao financiar seus estudos na Academia de Belas Artes, em Paris.
A carta aqui publicada integra a obra "Cartas de Amor de Gibran", publicação organizada e traduzida pelo escritor brasileiro Paulo Coelho.
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