terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Cidade às avessas - Gentes in Lugares

Por Carlos Eduardo Freitas [cadusongs@yahoo.com.br]

O odor forte de urina envelhecida há três semanas irritava as narinas dos transeuntes. O aspecto sombrio, degradado, um verdadeiro submundo, dava ao local um aspecto asqueroso, reiterado pelas paredes cheias de lodo dos casarões antigos que ornam o lugar.

Sentado... Não! Deitado, em meio àquela mancha de uns seis metros de extensão da urina de vários dias, ao lado de uma lixeira que estava quase vazia, pois um vira-latas havia revirado-a por completo, estava ele, o Codorna. Codorna é um desses “Zé da Silva” e tantos outros que não gostamos de ver. É um daqueles seres humanos que dá arrepio só de olhar. O velho rosto lembrava um antigo ralador de verduras, repleto de sujeira.
Foto: Jorge Arquero

A barba era meio grisalha, meio amarronzada, pelos longos dias sem um bom asseio. Não dava para distinguir as roupas e a pele dele. Ambas estavam com uma crosta de barro. Os pés, rachados como as terras do sertão nordestino. Muita gente passava pelo local. A maioria não o via. A mão direita do pobre homem estendida parara uma jovem loira, cor clara, avermelhada pelo sol castigante da cidade do Salvador, naquela sexta-feira.

Assustada, a menina pensara que o “esmoler” lhe pedia uns trocados. Grande espanto, quando aquela trêmula mão, suja e suada, devolvia, num nobre gesto, o celular da garota, que havia acabado de cair. Ela, e todos que passavam pela calçada da histórica Rua Chile engoliram, à seco, tal briosa atitude do velho pedinte chamado Codorna. Êta cidade às avessas!

  • *Carlos Eduardo Freitas é jornalista, assessor de imprensa da Secretaria Municipal de Relações Internacionais (Secri) e colaborador deste Blog desde janeiro de 2009.

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