sábado, 22 de novembro de 2008

Eu viajei à 20 quilômetros por hora no Barra 1

Foto: Silmaraelis

Cobrador só chegou ao ao ônibus no meio do trajeto...
"Pense num absurdo. Na Bahia tem precedente". A frase mais emblemática do ex-governador baiano Octávio Mangabeira é o maior clichê do mundo, eu sei, até porque, as circunstâncias do inusitado por aqui nos impedem de recorrer a um pensamento que tenha sido mais criativo e certeiro.
Eu sei que é difícil, mas, por favor: façam um esforço para acreditar no fato que ocorreu comigo na manhã deste sábado, 22/11. Entrei num Barra 1, que vem da Estação Mussurunga, na Av. Paralela, próximo a Unijorge, pois precisava descer no ponto do Detran, para atravessar a passarela e seguir até a Santiago de Compostela, onde trabalho na Assessoria de Comunicação do Galícia. Até aí nada demais.
Ocorre que não havia cobrador do ônibus. Falando sério. O motorista estava lá, na dele. Havia cerca de 45 pessoas no coletivo, mas, ninguém para cobrar a tarifa. Pensei: que maravilha! Seria este sábado o dia escolhido para o "milagre do passe-livre de Salvador?"
E a minha desconfiança de que algo estava errado persistia. A cada parada, mais pessoas entravam no ônibus e faziam a mesma pergunta: - Cadê o cobrador?
Imaginem que o motorista só foi se dar conta de que o ônibus estava sem cobrador quando o veículo já estava perto do Correio: "Oxe! O cobrador não tá aí não?", perguntou, numa espécie de momento zen/não estou nem neste mundo/Gilberto Giliano/.
Foi isso mesmo. Ele não percebeu que havia saído da Estação Mussurunga sem o cobrador! Depois da mais que atrasada constatação, com o carro em movimento, ele passou a telefonar desesperadamente para o colega. Quer saber o que o colega disse a ele?
- Peraí, véi, que eu já tô saindo de casa.
Pasmem. O cobrador deveria estar dentro do ônibus, a partir do ponto de origem (Estação Mussurunga), às 10h20. Eram 10h45 e ele estava saindo de casa para ir para o "trabalho". Vocês acreditam nisso?
Mas o pior ainda está por vir. O motorista passou a andar a 20 quilômetros por hora, sabe para quê? Para que desse tempo de um outro ônibus sair da Estação Mussurunga para trazer o cobrador para o seu posto. Sim, mas e as pessoas? O que elas tem a ver com esse cúmulo de incompetência, falta de compromisso com o usuário do transporte coletivo e bizarra trapalhada???
Começou a confusão. Era gente ligando para a empresa para denunciar o absurdo, gente xingando a mãe do motorista e a mulher do cobrador, gente dando gargalhada, tinha de tudo! E o ônibus a 20 por hora na Av. Paralela...
Quando chegamos, enfim, a região da Madeireira Brotas, eis que gritaram do lado de fora para o motorista esperar, porque, o cobrador havia chegado! Imaginem a cena. Ele atravessou as duas pistas em menos de 15 segundos, esbaforido, sendo xingado e humilhado de todas as formas possíveis. Aos risos, assumiu sua cadeira, às 11h...
Sinceramente, foram raros os momentos em que cogitei encher os dois trapalhões de desaforos, ameaçar chamar a imprensa, denunciar o ocorrido ou coisa assim. Eu estava me cagando de tanto rir com tamanho absurdo. Foi algo inimaginável, inusitado, surreal.
Foi mesmo? Não Murilo, não foi, afinal, já dizia o profeta Mangabeira...

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