quinta-feira, 23 de outubro de 2008

"Dona Flor é a pura representação do Brasil"

Arte gráfica: Toni D'Agostinho


Do antropólogo, sociólogo e professor Roberto Da Matta, em aula-magna ministrada agora pouco no auditório Zélia Gattai, da Unijorge. O estudioso veio a Salvador para participar do III Encontro Interdisciplinar de Cultura e Tecnologia (Interculte). O tema da palestra do autor de obras renomadas internacionalmente, como "Carnaval, Malandros e Heróis" foi "Quem é Dona Flor? O Brasil visto pelo olhar de Jorge Amado". Talvez seja redundante dizer que o palestrante ilustre desta noite foi extremamente aplaudido ao final do evento, que teve uma hora e dez minutos de duração.
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No podcast que será publicado na noite desta sexta-feira, 24/10, aqui no blog, eu comento os principais momentos da aula-magna de Roberto da Matta, bem como outros eventos que tiveram destaque nesta terceira edição do Interculte. Para não influenciar ninguém, não irei falar das eleições locais, há apenas dois dias do pleito decisivo. Portanto, fiquem ligados.
Por ora, transcrevo as principais frases do pensador durante a palestra desta quinta-feira:
"Eu sou filho de baiano. Meu pai e toda a família dele eram da Bahia. Me orgulho muito disso, porque a sociedade baiana é aberta e sabe tratar bem as pessoas que não são daqui"
"Capitu morreu por causa do ciúme do marido, mas Dona Flor, ao contrário desta primeira, não é vítima, assim como Gabriela também não é vítima"
"Jorge Amado, que dedicou muito de sua vida ao Partido Comunista Brasileiro, utilizava pressupostos marxistas em sua literatura. Basta lembrarmos de "Capitães de Areia", que foi o primeiro livro sobre os meninos de rua do Brasil"
"Essa novela das oito da Rede Globo, sim, esta que está passando agora é muito ruim! O bandido vira mocinho, o mocinho vira bandido... O autor não está com os personagens, ele controla os personagens. Jorge Amado estava sempre com os personagens, sem controlá-los. Perguntaram a ele, certa feita: Vadinho foi levado pelos orixás, para deixar de 'perturbar' Dona Flor? Ele respondeu: eu não sei..."
"O Brasil precisa ser visto através de seus costumes. Temos que nos ver através de nossa comida, da forma com que levamos ela à boca, através da praia, do carnaval, não apenas através da economia e da política. Nós somos muito mais que isso"
"O bandejão é popular nos EUA porque eles não gostam de misturar as coisas. É sério. Vocês nunca viram nos filmes. Eles preferem as cores do que o sabor. No Brasil não. A gente come misturando..."
"É o amor de Dona Flor que impede que Vadinho desapareça"
"Dona Flor é anti-burguesa e anti-pessimista, ao contrário da maioria das personagens do século 19, que foi um tempo extremamente aristocrático"
"O amor de Dona Flor pelo Vadinho não impede que o amor dela pelo Teodoro desapareça. É por essas e por outras que ela é uma representação do Brasil, do brasileiro. Em nossa cultura, podemos amar vários homens e várias mulheres ao mesmo tempo. Nos EUA eles não admitem isso. Querem saber logo se pedimos o divórcio... É como eu disse. A gente come misturando..."
"Minha conclusão é a seguinte: Dona Flor escolheu não escolher entre Vadinho e Teodoro. Acabou se dando bem, porque pôde ver os dois lados da história. Ela deu tempo ao tempo. Isso foi fundamental. Isso é fundamental"

Um comentário:

Anônimo disse...

Adorei este trecho. Bastante fiel ao comportamento cultural dos baianos e dentro da literatura do querido Jorge A.:

- "O amor de Dona Flor pelo Vadinho não impede que o amor dela pelo Teodoro desapareça. É por essas e por outras que ela é uma representação do Brasil, do brasileiro. Em nossa cultura, podemos amar vários homens e várias mulheres ao mesmo tempo. Nos EUA eles não admitem isso. Querem saber logo se pedimos o divórcio... É como eu disse. A gente come misturando..." (Da Mata)

Ah! Seu blog é show de bola!!
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Felicidades e paz!!