quarta-feira, 8 de julho de 2009

Jayme Caetano Braun: 10 anos sem o gênio das Missões

Nós, gaúchos, somos dotados de uma identidade cultural ímpar. Não quero dizer que a nossa cultura é melhor ou maior do que qualquer outra deste país de dimensões continentais que é o Brasil - não acredito nisso, nem gostaria de acreditar. Mas lá no Rio Grande do Sul, meus caros, especialmente lá, há uma verdadeira nação, mesmo que num aspecto micro, dentro desta nação em que nos encontramos.
Nossa poesia, nossa música, nossa culinária... Tudo é muito peculiar lá nas bandas do Uruguai, onde o vento Minuano sopra gelado e, se for por algum motivo menosprezado, corta a carne até sangrar. Também por essas razões que acabo de enumerar, boa parte das pessoas dos demais estados brasileiros desconhecem as raízes rio-grandenses. Somos bairristas demais, é verdade, o que tem o seu lado bom e ruim - como tudo na vida. O Brasil conhece pouco de nós, mas vejam que coisa curiosa: nós também somos Brasil, tchê!
Jayme Guilherme Caetano Braun é desconhecido em quase todo o Brasil, menos no Rio Grande do Sul, onde é quase um deus, tal qual Getúlio. Verdade seja dita: ele é famoso demais nos países vizinhos, como Argentina, Uruguai e até na Bolívia. Ele foi um grande poeta gaúcho, ou melhor dizendo, um "payador". Era conhecido, em verdade, como "El Payador". Jayme não era um poeta gaúcho universal como Quintana. Também não era um escritor gaúcho universal como Scliar. Pasmem: ele não era um artista gaúcho universal como Elis. Jayme era tudo isso, e mais um pouco, em nível regional. Em essência, era gaúcho. E só.
Ele nasceu em 1924, em Timbaúva (RS), atual Bossoroca, distrito de São Luiz Gonzaga, na região dos Sete Povos das Missões. Durante a sua carreira, escreveu livros, poemas e canções para enaltecer o Rio Grande do Sul. A essência do homem do campo gaúcho. O que Luís Gonzaga é para os nordestinos, bem, Jayme Caetano Braun é para os gaúchos, logo, sua importância significa muito.
Eu o conheci ainda criança, mas nunca pessoalmente. Meu padrinho e tio Murilo (meu segundo nome é uma homenagem a ele) me ensinou a gostar dele por causa de um poema, transformado em canção. Chama-se "Bochincho". Não irei descrevê-lo porque talvez seja heresia. Pesquisem, digitem este nome na barrinha do Youtube, recorram ao "santo Google", enfim. Deixem de preguiça. Está certo que para entender o poema/canção se faz necessário o auxílio de um dicionário de gauchês, mas essa já é outra história.
Há exatos 10 anos, o coração deste gênio, chamado Jayme Caetano Braun, parava em Porto Alegre. Era o momento de descansar um pouco, depois de tantas peleias pelas querências e pagos deste "Brasil Grande do Sul". Deve morar em uma nuvem em forma de fazenda no interior do céu, ouvindo os acordes precisos e melancólicos da gaita de um negro campeiro, admirando o zunido do vento ante as lanças de um índio (seria Sepé Tiaraju?), e é claro: a beleza morena da china que se banha nua, numa fonte do rio Uruguai.
Que saudade!

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