quinta-feira, 9 de julho de 2009

A pergunta que deixou de ser feita e o zoológico do Bahia

Em jornalismo, quando perguntas importantes deixam de ser feitas, a matéria perde relevância, a informação fica incompleta e a sociedade ganha mais dúvidas do que elementos para refletir e se posicionar. Na segunda-feira, 6 de julho, logo depois de o ex-técnico do Bahia, Alexandre Gallo ser demitido, um experiente repórter de uma das emissoras de TV aqui de Salvador entrevistou o gestor de futebol do Bahia, o polêmico Paulo Carneiro.

Evidentemente, o colega jornalista fez as perguntas de praxe ao cartoloa como, por exemplo, quem viria a ser o novo comandante do vestiário do "tricolor de aço" - a natural sondagem em Geninho, que não podia ficar de fora, também foi inclusa no pacote de questionamentos. Em casa, diante da TV, eu esperava, quase que impaciente pela questão principal a ser dirigida ao dirigente. Poderiam ser duas até, desde que tivessem o seguinte sentido:

- Gallo é o único culpado da campanha ruim que o Bahia faz em 2009?

- A demissão do técnico e a contratação do substituto fará com que o time ganhe a qualidade que não teve até agora?

Mas o pior é que as perguntas fundamentais deixaram de ser feitas. Outra hipótese, é a de que o editor tenha deixado as mesmas de lado, sabe-se lá deus (ou o diabo) por qual motivo. O fato é que a entrevista reproduziu exatamente a intenção desejada pela diretoria do Bahia: a ideia de que o Gallo é o culpado pela perda do título baiano para o rival, além da eliminação precoce na Copa do Brasil e a campanha deplorável no Brasileirão da Série B.

Como diria o "filósofo" Homer Simpson, "a culpa é minha e eu a coloco em quem eu quiser"...

A entrevista foi encerrada e as perguntas mais importantes não foram feitas.

Paris
Mas nem tudo está perdido na terra do nunca. Um dia depois, 7, o jornalista Oscar Paris assinou sua coluna Gol de Placa, no jornal A Tarde, sob o título "De Canela", em que manifesta concordância com a demissão de Gallo, mas ao mesmo tempo faz questão de enfatizar a culpa da diretoria do Bahia devido a tudo o que temos visto desde que o ano começou. Reproduzo agora o melhor trecho do texto:

"Logo, não são apenas os atletas que estão tropeçando na bola. A jogada começa errada já no gabinete, onde são decididas as contratações. Gallo, como chefe do vestiário e homem que escala, tem lá sua parcela de culpa, evidente. Porém, os responsáveis pelo material humano não podem ser isentos. Pelo contrário. Menos mal que Gallo já fez as malas. Agora é torcer pela debandada de outros bichos".

Penso que jornalismo é isso. É tocar nessas feridas onde poucos se arriscam e acabam pecando por omissão. Não estamos aqui nem para sermos injustos, tampouco para ficar puxando o saco de ninguém, temendo as pessoas públicas que possuem obrigações para com os outros, nos diversos setores da sociedade. Nós precisamos esclarecer os fatos e, se preciso, cutucar esses bichos que latem muito e mordem pouco, porque, do contrário, entraremos como burros nesse verdadeiro zoológico.

*Revisada às 9h08 do dia 10 de julho.

2 comentários:

Unknown disse...

E olha que são diplomados tais jornalistas 'esquesidos'. Imagine os não!!!

Desculpa o veneno, mas é que acabei de ler uma porrada de 'merdas' que alguns 'colegas', 'precários', não diplomados, que atuam no jornalismo, escreveram no fórum sobre as PECs em tramitação, no Portal Comunique-se.

Abs e parabéns pelo texto. Seu blog, meu caro, já deixou de ser um mero e bom veículo de informação, ganhou ares agora de observatório da imprensa. PARABÉNS E PODE CONTAR COMIGO SEMPRE.

Do amigo,

Carlos Eduardo Freitas
Jornalista

Murilo Gitel disse...

Obrigado, Carlos! Você também ajuda a construir este blog!

Quanto ao retrocesso institucional promovido pela maioria dos juristas do STF (certamente a serviço de interesses suspeitos), penso que a luta continua, e que devemos travá-la com todas as forças, mostrando que não vamos nos calar diante de mais essa arbitrariedade em relação as nossas conquistas.