quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Crônica de uma policial exemplar ou quando a boa índole extrapola a farda e se torna exemplo geral

Soldado Andrade (à esq.)/Foto: Mônica NogueiraPor Carlos Eduardo Freitas* [cadusongs@yahoo.com.br]

‘Marcha soldado, cabeça de papel, se não marchar direito...”! Definitivamente, os tempos mudaram e os ‘soldadinhos de papel’ já não são mais os mesmos. Atualmente, salvo as raríssimas exceções, a população vive amedrontada, tanto com os bandidos, como com a atitude de certos policiais. Hoje, porém, o destaque será dado exatamente às raras exceções. Pois, no mundo dos valores distorcidos, quando nos deparamos com aqueles eu realmente valem, chegamos a nos espantar.

O fato, verídico, se deu em uma cidade que compõe a Região Metropolitana de Salvador: Camaçari. Com seus mais de 200 mil habitantes, o município, entre suas Glebas e seus Phocs, jamais poderia imaginar que, de tão inusitado, parecia irreal.

O sol se punha, dando ao final da tarde aquele ar de saudosismo magistral. Um degradé em tons brandos se formava no horizonte... E lá, em uma discreta rua do bairro estranhamente chamado de Lama Preta, os poucos raios de sol, que ainda restavam, refletiam uma luz advinda de uma bem asseada janela. Neste lugar, de uns poucos metros quadrados, não era apenas a limpeza que chamava a atenção, mas sim quem executava uma cuidadosa faxina: uma policial militar, fardada.


Foto: Mônica Nogueira

Mas, não era uma simples policial militar, era Cláudia Regina Andrade Jesus Souza - ou Soldado Andrade. Atenta ao movimento na rua, ela se desdobrava entre fazer seu papel de vigilante pela segurança da população e de zeladora (de quem zela, e não a figura chamada ‘diarista’) do seu ambiente de trabalho: o Módulo Policial do lugar. A Soldado Andrade bem que merecia uma medalha de honra ao mérito, pois fazia daquele módulo sem estrutura um local limpo e digno de ser habitado por seres humanos, de farda. Mas, ela preferia o anonimato da modéstia e ainda atribuía o ato de nobreza ao colega de plantão, o Soldado J. Souza.

É sabido que muitos agregados à corporação militar têm seus ‘pecados’, suas obscuridades. Mas, é enaltecedor para um cidadão comum, que paga suas contas e cumpre com suas obrigações cíveis presenciar tal cena. A Soldado Andrade, sem se preocupar com patente ou coisas derivadas, limpava os vidros do módulo, com perfeição. Coisa que não se vê acontecer no funcionalismo público ou mesmo em outros ambientes da própria polícia. Mas, Andrade, com os seus 35 anos de idade e 12 de profissão, casada, mãe de uma filha de 10 anos, não se assustava com sua própria atitude. Aquilo para ela era normal: “Faço isso, porque gosto de estar em ambientes limpos. Me preocupo com a impressão que as pessoas têm do meu ambiente de trabalho, mesmo sendo este um Módulo Policial”.

Surpreendendo ainda mais, a policial militar ainda afirmara: “Não perco minha autoridade policial por higienizar o lugar”. Como pensamentos assim fazem falta nos dias de hoje, nos dias de sujeira geral no Senado, nas CPIs e negociatas interpartidárias no nosso Brasil varonil... Claro que a organização Militar precisa ter seus funcionários que cuidem da faxina, mas, como diria um grande pensador: “Em terra de paca, tatu caminha dentro”. Traduzindo: na falta de estrutura, prevalece o bom senso e a boa vontade. Esta policial é um exemplo. Exemplo de como podemos ser resilientes e fazer das dificuldades um trampolim para mostrarmos nossa nobreza de espírito.

Essa história, repito, é verídica e foi retirada de uma matéria publicada em um jornal da Região Metropolitana de Salvador, o Camaçari Fatos e Fotos.


*Carlos Eduardo Freitas é jornalista. Colabora com este Blog desde janeiro de 2009.

2 comentários:

Mimí- Ana Rico disse...

No resulta muy común que un policia limpie su propio lugar de trabajo, supongo que habrá una persona que emplea su tiempo en ello como profesión, limpiador. No creo que sea lo más aconsejable, formar personal de seguridad para que ejecute labores de limpieza.

Un abrazo desde Extremadura

MuriloAlves disse...

Ok, Mimí, sua opinião está registrada.

De fato, não é a medida mais aconselhável, porém, aqui no Brasil a falta de infraestrutura para os policiais militares é tamanha, que situações como essas se tornam comuns.

Abraços brasileiros!