quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Mundo Contemporâneo ou um Conto Americano?


[...] o macho, adulto, branco sempre no comando/e o resto é o resto - O Estrangeiro - Caetano Veloso
É difícil lutar contra o conservadorismo acadêmico. Na faculdade de jornalismo, neste sétimo e penúltimo semestre da graduação, temos observado a incoerência de algumas ementas, sobretudo em relação a uma importante disciplina - Mundo Contemporâneo - fundamental para o entendimento dos conflitos e demais relações entre os povos. A professora é competente e vem da área de Relações Internacionais, mas eu particularmente discordo da metodologia teórica prevista para ser aplicada neste semestre, por um motivo bem simples: estudaremos apenas as visões de mundo dos norte-americanos. Por que?
Nada contra os badalados Fukuyama e Huntington, mas seria mais congruente caso também pudéssemos ter acesso aos pensamentos dos intelectuais africanos, brasileiros, árabes, ou seja, também os não-norte-americanos. Trouxe a discussão para a sala-de-aula, porque pesquiso bastante e sei que o mundo extrapola o país do Mc Donald's, da Coca Cola e do Burguer King. A professora, bem intencionada, explicou que adora a visão de mundo contemporâneo destes dois autores, mas confessou "se sentir uma farsa" como profissional desta disciplina, por conta da ausência de uma base teórica mais ampla, eu diria global.
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Eu penso que a expressão "uma farsa" é um exagero de humildade e auto-crítica da educadora, a medida que a mesma também faz parte deste ambiente um tanto centralizador que é a academia, mas também acredito que precisamos aproveitar o avanço tecnológico e a globalização cada vez mais intensa da informação para quebrarmos esses grilhões, atingindo ao máximo de fontes possíveis de conhecimento, não nos limitando aos estudos e interesses de grupos hegemônicos e imperialistas.

2 comentários:

Anônimo disse...

Importante observação, Gitel! Nada como uma boa reflexão acerca das farsas acadêmicas que norteiam os sistemas universitários embalsamados com a visão única, a do mercado. Você disse, "Nada contra os Fukuyamas....". Eu estenderia: tudo contra os Fukuyamas! Aliás, é este nipo-americano responsável pela balela metodológica de que a história teria findado após a queda do Muro de Berlim, sem saber que a globalização, por si só, se encarregaria de levantar outras centenas de muros de exclusão social. Se uma faculdade se limita a passar para os alunos uma visão de mundo já superada e, sobretudo, etnocêntrica e preconceituosa, é porque já dobrou a esquina da decadência e realmente não é um centro de ensino, mas uma franquia de fast food pseudoeducacional.
Abração,

Zeca Peixoto

Murilo Gitel disse...

Obrigado pelo acesso, comentário e observação, professor!
Concordo com a tua contribuição para o debate acerca do Ensino Superior.
Um grande abraço!