sábado, 13 de dezembro de 2008

Casamento: Gibran escreve sobre o tema à Mary Haskell em 1923


Boston, 26/27 de maio de 1923.
Amada Mary,
O casamento não permite a ninguém escravizar o outro - exceto naquelas áreas onde você se permite ser subjugado. Tampouco dá outra liberdade além daquela que você resolveu permitir. Só podemos receber aquilo que damos.
Para as pessoas inteligentes, a base do casamento é uma genuína amizade, onde se luta pelos próprios sonhos e os sonhos da pessoa a quem se ama. Sem estes sonhos, a relação matrimonial se reduz a uma série de almoços e jantares na cozinha da casa...
Não existem duas almas iguais. Na amizade e no amor os dois levantam as mãos juntos para agarrar uma coisa que não poderiam alcançar se estivessem separados.
A velha frase da cerimônia do matrimônio: "Você recebe fulano de tal, na saúde ou na doença", etc. - é totalmente absurda. Como alguém pode receber o outro? Um dos dois estaria deixando de existir - ou, melhor ainda, os dois juntos perderiam sua própria identidade.
Com amor,
Khalil
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Complemento com excerto de "O Profeta":

ALMITRA falou de novo e disse: - Mestre, que pensais do Casamento?
Ele respondeu, dizendo: - Nascestes juntos, juntos ficareis para sempre. Ficareis juntos quando as asas brancas da morte dispersarem os vossos dias. Sim. Ficareis juntos até na silenciosa memória de Deus. Mas que haja espaço na vossa comunhão; e que os ventos do céu dancem no meio de vós.
Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um empecilho: seja antes um mar vivo entre as praias das vossas almas. Enchei cada um o copo do outro,mas não bebais por um só copo. Partilhai o pão; mas não comais do mesmo bocado. Cantai e dançai juntos, sede alegres; mas permaneça cada um sozinho, como estão sozinhas as cordas do alaúde enquanto nelas vibra a mesma harmonia.
Dai os vossos corações; mas não a guardar um ao outro, porque só a mão da Vida pode conter os vossos corações. Mantende-vos juntos, mas nunca demasiado próximos: porque os pilares do templo elevam-se, distanciados, e o carvalho e o cipreste não crescem à sombra um do outro...


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