terça-feira, 3 de março de 2009

Crônica de uma tragédia enunciada

Fotos: Agência A Tarde/Adaptação: Carlos Eduardo FreitasPor Carlos Eduardo Freitas [cadusongs@yahoo.com.br]*
Direita, esquerda. Para um lado e também para o outro... Sandálias havaianas, tênis Nike de trezentos reais, Reebock de cinqüenta reais vendidos por contrabandistas... Chinelos de couro, sapatos sociais, engraxados e também os foscos. Sandálias com saltos médios, altos e exageradamente altos. Rasteirinhas...

Para lá e para cá, são milhares deles transitando por uma passarela, durante todo o dia e também à noite. São eles: nossos pés.

O “Maluco Beleza” em certa ocasião de outrora, alertara: “O dia em que a terra parou...”! Bom, o planeta pode até não ficar na inércia absoluta, mas a região do Iguatemi, em Salvador, pode, qualquer hora dessas, ver sua principal artéria se romper e evidentemente parar.

Quem, pedestre, ainda não parou, ao atravessar a passarela do Iguatemi, para meditar: “Isto aqui está muito velho, há décadas não passa por manutenção e, qualquer dia desses, todo esse arcabouço pode, simples e horripilantemente, ruir”.

Enquanto isso não ocorre, autoridades ficam de braços cruzados em seus gabinetes cheirando a Gleide Bom Ar e centenas de milhares de pés – os que têm, os que pedem, os que não – continuam arriscando suas vidas na louca e desconcertante rotina de cruzar por tal elo, todo santo dia.

O sol cai, a noite vem e a esperança é que, assim como as estrelas ficam firmes na imensidão do céu, que tal ponte seja sustentada por uma força misteriosa que tem a árdua missão de evitar que uma tragédia, que já foi premeditadamente anunciada, enunciada e denunciada
, aconteça.
*Carlos Eduardo Freitas é jornalista, assessor de imprensa da Associação dos Gestores Governamentais do Estado da Bahia e colaborador deste Blog desde janeiro de 2009.

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