Por Murilo Gitel
Jornalista, escritor e professor, Edvaldo Pereira Lima (foto) nasceu na pequena cidade de Columbia, no interior do Paraná. Ao conhecer boa parte do país viajando durante à infância e adolescência, ficou fascinado pelas reportagens da revista Realidade, responsável por estimular o então garoto sonhador a escrever. Aos 15 anos de idade, a miopia interrompeu o outro sonho: o de pilotar jatos transcontinentais, mas não foi suficiente para impedi-lo de se tornar uma das mais respeitáveis referências bibliográficas na área da comunicação.
Graduado em jornalismo e turismo, fez Mestrado e Doutorado em Ciências da Comunicação na Universidade de São Paulo (USP), onde leciona na Escola de Comunicação e Artes (ECA). Autor de vários livros, dentre os mais destacados O que é Livro-Reportagem e Páginas Ampliadas, o principal foco do pesquisador abrange o Jornalismo-Literário (livro-reportagem), a Literatura da Realidade e as Histórias Orais de Vida.
Radicado em São Paulo, ele concedeu uma entrevista por e-mail para ser utilizada no seminário sobre Livro-Reportagem que Alex Jordan e eu apresentamos na noite de terça-feira, 26, no Centro Universitário UniJorge, para a disciplina Elaboração de Projetos, mas como recém retornou de viagem, só pôde me enviar as respostas na manhã desta quarta-feira, 27. Ele me adiantou que dentro de poucas semanas já estará circulando a quarta, ampliada e atualizada edição do Páginas Ampliadas, também pela Editora Manole. Haverá um capítulo novo sobre Jornalismo Literário, trazendo fundamentos essenciais.
Blog: Professor, na coluna de Celso Falaschi intitulada “Livro-reportagem ou reportagem grande?” publicada no site Texto Vivo, ele faz uma provocação a respeito do conceito equivocado que muitos estudantes de jornalismo têm sobre o tema. Tem muita gente pensando que a criação não tem nada a ver com disciplina?
EDPL: A prática do Jornalismo Literário e do livro-reportagem exige a combinação dessas duas qualidades. Você precisa ter disciplina, capacidade de planejamento e execução de uma tarefa de longo alcance, para poder dar conta da complexidade que é escrever uma matéria de fôlego. Você precisa estudar o assunto, informar-se, familiarizar-se, levantar informações, compreender com propriedade o tema subjacente ao assunto. Depois, precisa pensar bem na pauta, partir para entrevistas, captação e observação com um desenho na sua mente do que pretende buscar. E finalmente, precisa também ter disciplina, dedicação, empenho para escrever e editar. Ao mesmo tempo, precisar ser criativo no sentido de encontrar ângulos diferentes para captar e compreender o mundo e para escrever a história que tem para contar. Criatividade nada tem a ver com a ficção, aqui, nem com a invenção. Tem a ver com um olhar diferenciado para captar e expressar o mundo com imaginação, sem escapar da realidade e sem embarcar no mundo ficcional.
Blog: Em “O que é livro-reportagem” o senhor afirma que o gênero engloba apenas o real factual, seja na veracidade ou na verossimilhança, já que seus procedimentos operacionais são jornalísticos. Para ser mais completo do que as redações de jornais, o que o Jornalismo de profundidade deve buscar?
EDPL: Deve buscar compreender os fatos, as circunstâncias e a realidade sob foco, numa pauta, sob uma ótica de complexidade. Isto é, deve focalizar a realidade como sendo constituída tanto por fatores objetivos, externos, concretos, quanto por fatores subjetivos, internos, sutis. Para isso, o autor deve desenvolver em si mesmo a capacidade de ler e compreender o mundo tanto pela via da lógica e do pensamento racional quanto pela via da intuição e da emoção. Inteligência racional e inteligência emocional devem andar juntas, num autor de Jornalismo Literário. Um escrito assim é tanto inteligente e lógico quanto sensível e intuitivo, em alguma medida.
Blog: Quais são os teus livros-reportagens de cabeceira? E quais autores merecem toda a atenção e credibilidade no gênero?
EDPL: Os meus, de cabeceira, são "Fama & Anonimato", do Gay Talese, "Um Adivinho Me Disse", de Tirziano Terzani, "A Vida Que Ninguém Vê", de Eliane Brum, e meu próprio "Ayrton Senna: Guerreiro de Aquário".
Além desses autores, há muita gente boa no campo do Jornalismo Literário: Tom Wolfe, Caco Barcellos (em seu livro "Abusado"), Joseph Mitchell, Susan Orlean, John McPhee, Paul Theroux (em narrativas de viagem), Lillian Ross, Joan Didion.
Além desses autores, há muita gente boa no campo do Jornalismo Literário: Tom Wolfe, Caco Barcellos (em seu livro "Abusado"), Joseph Mitchell, Susan Orlean, John McPhee, Paul Theroux (em narrativas de viagem), Lillian Ross, Joan Didion.
Blog: Qual seria a(s) diferença (s) de livro-reportagem para romance-reportagem?
EDPL: O primeiro é uma obra jornalística (isto é, conteúdo verdadeiro) com estilo narrativo literário(isto é, texto esteticamente bem construído). O segundo é uma obra de ficção que se estrutura como se fosse reportagem.
Blog: Desde Hiroshima e Capote o movimento Novo Jornalismo parece ter caído no gosto dos leitores. E atualmente, o livro-reportagem ainda tem espaço no mercado, levando-se em consideração também o boom da internet?
EDPL: Claro! É só ver o interesse crescente das editoras brasileiras em publicar livros-reportagem, especialmente da categoria biografia. É só ver as matérias de várias páginas de Eliane Brum publicadas na revista Época. É só ver as matérias em estilo de Jornalismo Literário publicadas nas revistas Piauí, Brasileiros, Rolling Stones Brasil e Trip.
Blog: Normalmente ocorre uma grande confusão quanto aos conceitos. Jornalismo Literário, Literatura de Não-Ficção e Literatura de Realidade diferem em algum aspecto?
EDPL: Não há confusão. São nomes diferentes fazendo referência ao mesmo fenômeno: a prática de um jornalismo que vai mais fundo do que o jornalismo convencional e que prima por uma excelência narrativa que lhe dá uma legítima qualidade literária.
Edvaldo Pereira Lima também tem um site na internet, o Texto Vivo, onde há artigos e fotos a respeito do Jornalismo Literário.
5 comentários:
Murilo,
Gostei bastante da entrevista. Recomendarei a todos os meus alunos da disciplina Jornalismo e Literatura. Recomendo que faça o mesmo com o professor Rogé Ferreira.
Um abração
Obrigado, Márcia!
Repeti as perguntas para Felipe Pena, que também gentilmente me respondeu e devo publicar ainda hoje.
Ele torna a erguer a bandeira do que chama de "Jornalismo de Ficção".
Caso os seus alunos precisem dos contatos, pode ficar a vontade para repassar o meu e-mail a eles, ok?
Abraços!
Olá,
Obrigada pela entrevista, estou procurando bibliografia sobre Jornalismo Literário e cheguei aqui ao pesquisar sobre o autor.
Se tiveres mais sugestões, agradeço.
Abraço
Larissa
Parabéns pela entrevista, Murilo. Edvaldo tem sido meu principal teórico para o TCC da universidade e, embora eu já esteja na fase final do trabalho, a entrevista me acrescentou um bocado. Posso te adicionar como parceiro em meu blog? tens algum banner para eu postar lá? Aguardo.
Querido,
Que felicidade a minha quando me deparei com seu nome, enquanto procurava referência para Edvaldo. Estou preparando meu seminário sobre livro-reportagem e o autor é minha principal bibliografia. Estou me baseando no livro Páginas Ampliadas.
Sua entrevista caiu dos céus para mim.
Vc vale ouro, rapaz!
Beijo grande!
Ramáiana Leal
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