quarta-feira, 15 de abril de 2009

Crônica de uma avenida ‘poeticamente’ tricolor

Crédito da imagem: Blog do JucaPor Carlos Eduardo Freitas* [cadusongs@yahoo.com.br]

As luzes faziam riscos na noite iluminada pela lua. A noite ganhava glamour com o tracejar, belo balé, das luzes dos postes e das lanternas traseiras dos carros - vistas em movimento, sob a velocidade de um ônibus metropolitano, quase intermunicipal. Havia, porém, algo magnânimo entre aquele ziguezaguear incandescente. Três cores, deixavam aquele pedaço da avenida Paralela, artéria da Soterópolis, com um ar de imponência, mística e subjetiva de um povo.

Azul, vermelho e branco. Depois que o tão temido outrora, tricolor de aço, aportou no estádio de Pituaçu, a Paralela não foi mais a mesma. Nos dias de jogos do Esporte Clube Bahia o trecho compreendido entre o Extra Paralela e a Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC) se transfigura. De uma mescla de verde [dos resquícios de Mata Atlântica, mas resquícios do que nunca!], com o cinza das construções [muito mais construções do que nunca!], o local se transveste em tricolor.

Não se vê pessoas, mas cores. São tantas que até confunde. À primeira vista, parece uma romaria, uma enorme bandeira declinada no leito da avenida. Uma onda do mar, em dias de oferendas de rosas e flores diversas... Não se vê só o azul do mar, mas vermelho da paixão e o branco da paz. Poderia também ser o branco do vazio de reflexão racional, quando se fala em paixão por um time de futebol. Branco do esquecimento, mesmo em épocas de declínios do time. Multicor. Ser torcedor é assim... Ser uma onda dissipadora de contrários e contraditória na razão. O torcedor do ‘Bahêêêa’ é assim. Não está nem aí se o clube é chamado, sorrateiramente, de ‘Jaía’. Ele é azul, é vermelho e é branco, e só.

Quando acaba o instantâneo lapso de poética etnografia, este jornalista que vos escreve percebe, consternado e aflito, que perdera o ponto de ônibus onde deveria ter descido, após uma jornada de trabalho em um jornal da ‘cidade RMS’ de Camaçari. O blogueiro deveria ter descido, há 10 minutos, no bairro de São Cristóvão – divisa de Salvador com Lauro de Freitas.

Já era tarde. Não adiantava puxar a cordinha sonora do ônibus que faz a linha Camaçari x Lapa. Por hora, bastava-me esperar o ponto do Extra [mais movimentado àquela hora da noite] e continuar divagando sobre a ‘Paralela Tricolor’ que presenciava.

*Carlos Eduardo Freitas é jornalista, assessor de imprensa da Associação dos Gestores Governamentais do Estado da Bahia e colaborador deste blog desde janeiro de 2009.

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