quarta-feira, 17 de setembro de 2008

ACM Neto é sabatinado no segundo dia de debates na UniJorge



Os ponteiros do relógio marcavam 19h25 quando o deputado federal e candidato a prefeito pelo Dem, ACM Neto, subiu no palanque do auditório Zélia Gattai, na UniJorge, na última terça-feira, 16. Ele foi o segundo “prefeiturável” sabatinado na série de debates organizada pela Coordenação do Curso de Comunicação Social da instituição, em parceria com o Diretório Central dos Estudantes (DCE).

Ao contrário do que ocorreu no dia anterior, na sabatina com o prefeito João Henrique (PMDB), o auditório não esteve lotado, embora o encontro tenha registrado uma boa presença de estudantes. Vestindo camisa social despojada e calça jeans azul, um visual bem distinto dos paletós formais de Brasília, ACM Neto parecia mesmo querer atrair a simpatia dos jovens presentes para o debate.

Depois da apresentação do mediador do evento, o coordenador do curso de Comunicação Social, Bernardo Carvalho, ACM Neto teve 20 minutos para as considerações iniciais, antes de responder as perguntas dos estudantes. No entanto, como extrapolou o limite de tempo, pediu mais três minutos para comentar os problemas da segurança pública de Salvador, o que resultou em cinco minutos de tolerância.

Líder nas pesquisas de intenção de voto, mas ciente do crescimento do prefeito João Henrique nas últimas projeções, ACM Neto utilizou boa parte do tempo que teve para alfinetar a atual administração municipal: “Eu poderia passar três horas ou mais falando sobre os problemas de Salvador. Nós temos uma prefeitura centralizada, burocratizada e insuficiente para discutir os problemas da cidade”, disse.

Em seguida, o candidato procurou apresentar as principais propostas de sua campanha nas áreas básicas de qualquer gestão, como segurança, educação, saúde e transporte. ACM Neto prometeu reduzir o número de secretarias municipais, das atuais 18 para 10, caso seja eleito. Em uma apresentação de slides, o deputado apresentou a idéia de implantar os Centros Municipais de Gestão, que seriam distribuídos em cada região da cidade. “Cada um deles terá um Núcleo de Conservação Urbana, além de um Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC)”, ressaltou.

Para a saúde, ACM Neto prometeu aumentar os investimentos para o Programa Saúde da Família (PSF). Segundo ele, Feira de Santana, município administrado pelo Dem, tem mais de 80% da população atendida pelo PSF, enquanto em Salvador, este número é de apenas 12%. Mesmo sem explicar de onde virão os recursos, o candidato comentou o compromisso de implantar um pediatra em cada posto de saúde, sob a alegação de que, atualmente as crianças da capital são atendidas pelos clínicos gerais.

Ao demonstrar o plano de “Nova Estratégia de Desenvolvimento” para Salvador, ACM Neto declarou que pretende mudar a localização da rodoviária da região do Iguatemi, para a BR-324. Para resolver o problema do trânsito na capital, ACM Neto explicou a proposta da implantação do “Expresso Salvador”, que pretende interligar seis estações por meio de vias expressas, com faixas exclusivas par a ônibus. Ele criticou os gastos com o metrô e uma suposta falta de transparência da atual gestão: “O prefeito ainda não informou a população quanto ainda será gasto, quando a obra será terminada e qual será o valor da tarifa, que, na minha opinião, deverá ser menor do que a do ônibus”, comentou.

Quando explicava os detalhes do “Expresso Salvador”, ACM Neto não resistiu à tentação de ironizar o prefeito João Henrique, ao estabelecer os rumos que o metrô irá traçar caso seja eleito: “Da Estação da Lapa até o Acesso Norte serão seis quilômetros. Sim, bem ali onde passará o menor metrô do mundo (risos), e depois mais seis até a Estação Pirajá, totalizando 12 quilômetros”, provocou. A brincadeira caiu no gosto do público presente e o candidato teve que esperar pelo menos 10 segundos para prosseguir.

O polêmico Big Brother Bairro – Mas quando as considerações iniciais de ACM Neto terminaram e as perguntas dos estudantes começaram a ser lidas pelo mediador Bernardo Carvalho, o clima esquentou no Zélia. Se o candidato do Dem ainda não desistiu da idéia de implantar o sistema de monitoramento de câmeras nos bairros mais violentos, certamente ele deve estar pensando duas vezes nessa possibilidade, depois da noite de terça-feira. Boa parte dos questionamentos eram referentes ao polêmico “Big Brother Bairro”. Uma estudante perguntou: “Deputado, o senhor não acha uma infantilidade tratar do problema da segurança pública como se ela fosse um ‘reality show’”? Aparentemente surpreso, ACM Neto esbanjou um breve sorriso e respondeu: “É engraçado como esse assunto tem tido desdobramentos e distorções nessa campanha”.

Logo depois, argumentou que as pessoas não podem reduzir as propostas para a segurança pública a este único projeto. Quanto às questões que colocavam a fragilidade dos equipamentos expostos na rua em xeque, ACM Neto tentou usar os modelos já aplicados em cidades européias, como Madri, para justificar a viabilidade da ação: “Hoje, as câmeras são protegidas por uma blindagem especial. Não há o risco de o ladrão atirar nelas e elas serem quebradas”, disse. Em seguida, complementou a discussão, ao afirmar que R$10 milhões serão aplicados somente na primeira etapa do projeto, o que provocou estranhamento e surpresa em boa parte do público.

Quando o debate girou em torno da inclusão social, ACM Neto apresentou a idéia de implantar o programa “Cidade Digital” nos bairros periféricos de Salvador. Segundo ele, o projeto irá oferecer internet grátis através de conexão “wireless”, inicialmente no Subúrbio Ferroviário. Em relação ao transporte público, o candidato do Dem disse que irá reativar o Conselho Municipal de Transportes, implantado na última gestão carlista e desligado na administração de João Henrique. O CMT teria a missão de analisar as discussões da sociedade civil sobre os problemas do transporte público.

Passado político, Igreja e Candomblé – Depois de discursar sobre outras propostas para a cidade, o debate tornou a ficar acalorado, quando as perguntas polêmicas vieram mais uma vez de encontro a ACM Neto. Numa delas, um estudante lembrou das Capitanias Hereditárias para fazer uma alusão a tradicional política coronelista, tão comum na região Nordeste no século XX. Em seguida, perguntou ao candidato, neto de um dos políticos que mais tempo ficou no poder na Bahia, o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, qual garantia ele poderia dar que o “novo” dará certo. A pergunta foi muito aplaudida pelos estudantes antes da resposta do deputado. Ele respondeu: “Eu sou político. Essa é uma opção minha. Cresci nesse meio. Mas comecei a fazer política quase que 50 anos depois de meu avô. Muita coisa mudou nesse período. Se vocês não sabem, meu bisavô não era político. Era médico sanitarista. Depois é que veio a ser deputado, pelo Partido do Trabalho”, finalizou.

A contradição ao afirmar num primeiro momento que o bisavô não era político, mas foi eleito deputado causou novo barulho no auditório do Zélia Gattai, além de muitas risadas dos alunos presentes. ACM Neto tentou convencer os estudantes de darem a ele a chance de gerir a cidade, sob o argumento de que caso ele faça uma gestão desastrosa, estará sentenciando o fim de sua trajetória política: “Se eu for triturado pela máquina pública, estarei assinando meu fim na política, até porque eu serei prefeito antes dos 30 anos de idade”, enfatizou.

Em outro ponto polêmico da sabatina, um estudante perguntou se ACM Neto, que afirma ser adepto do Candomblé, não se sentia constrangido ao ter como vice o bispo Márcio Marinho, da Igreja Universal do Reino de Deus, que costuma demonizar os cultos de matriz africana. Nova salva de palmas para a pergunta apimentada. ACM Neto fez questão de afirmar que a Iurd e a Rede Record não têm nenhuma influência no nome de Marinho para ser o vice na chapa do candidato do Dem. “Ele foi indicado pelo PR, que é presidido por César Borges, não pela Record ou pela Igreja”, afirmou.

Depois, tentou demonstrar segurança quanto ao fato de ter um candidato à vice evangélico: “A nossa cidade é a que melhor convive com a diversidade de crenças. Eu não convido o bispo Marinho para me acompanhar num terreiro, porque respeito a crença dele. Assim como não convido um filho-de-santo para assistir a um culto na Igreja Universal”, declarou. Outro estudante indagou se a intenção da parceria com Marinho seria a de criar um novo monopólio nos grupos de comunicação da capital, unindo as TV’s Bahia e Record. Ante os sorrisos e ruídos dos estudantes, ACM Neto sorriu e disse que ele não se mete nos negócios da família, pois não é empresário, apesar de ser herdeiro das empresas administradas atualmente, pelo pai, ACM Júnior.

Ainda sobre a área de comunicação, ACM Neto perguntou aos estudantes se eles já pararam para observar a linha editorial dos telejornais da Rede Bahia: eles estão cada vez mais imparciais, mesmo pertencendo a minha família. “Reparem como os candidatos à prefeitura têm o mesmo espaço neles”, sugeriu. Para complementar, o candidato opinou sobre a mudança do jornal impresso da família. “Depois que o meu avô faleceu, nós todos decidimos mudar os rumos do Correio. A postura política não existe mais no novo Correio”.

Barracas da orla – Outro assunto motivo de polêmica nos últimos anos da administração de João Henrique, a situação das barracas de praia da orla marítima de Salvador também foi pauta no debate da última terça-feira. ACM Neto desconversou quando um dos estudantes o questionou a respeito de uma ausência do deputado em um dos debates sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), preferindo expor a opinião dele a respeito do tema, em vez de comentar a falta. Sobre o comércio nas praias da orla da capital, o candidato disparou: “Tem que haver um projeto viável, não esse projeto doido que foi feito. Além disso, as barracas de nossa orla não podem ser industrializadas, como no Rio de Janeiro, onde até Mc’Donald’s tem.

Depois de uma hora e 21 minutos de debate, ACM neto fez as considerações finais e encerrou a participação no evento, depois de ter se esforçado para responder a maioria das perguntas feitas pelos estudantes, pois tinha um compromisso de campanha marcado para as 20h30. Ele aproveitou para ressaltar a importância do encontro promovido pela UniJorge e tentou a convencer aos jovens presentes a dar-lhe um voto de confiança.

Em seguida, o coordenador do curso de Comunicação, Bernardo Carvalho agradeceu a presença do candidato e do público presente, para encerrar a segunda noite de debate dos prefeituráveis de Salvador. Entre vaias e aplausos, ACM Neto deixou rapidamente o auditório do Zélia Gattai, mas parou duas vezes para atender a pedidos de alguns alunos que desejavam tirar fotos com ele. O vice, Márcio Marinho, saiu logo em seguida, distribuindo sorrisos e apertando as mãos de quem via pelos corredores.

Ao término do debate com ACM Neto, as opiniões dos estudantes sobre o evento divergiram. Para a estudante do curso de História, Ana Maria Fávero, 24 anos, o candidato do Dem se saiu bem e já deve contar com o voto dela nas eleições de outubro: “Ele mostrou que está preparado para ser o prefeito de uma cidade cheia de problemas como a nossa”, disse. Já o aluno do curso de Sistemas de Informação, Paulo Nicácio, 22 anos, discorda da opinião de Fávero: “Ele não respondeu a minha pergunta sobre o PDDU, por que será?”, questionou. Outro estudante de Comunicação Social com Publicidade, Felipe Rocha, 23 anos, também saiu insatisfeito com o desempenho do deputado: “Ele sabe muito bem apontar o que falta fazer na cidade, mas as propostas dele são sem fundamento. E o pior de tudo: não diz de onde irá tirar verbas para tanto plano faraônico”, criticou.


Nesta quarta-feira, 17, será a vez de o candidato neotucano, Antonio Imbassahy, ser o sabatinado do debate da UniJorge, a partir das 19h. O evento será mediado pela jornalista e professora Cleidiana Ramos.

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