terça-feira, 2 de setembro de 2008

Eles mudaram. Mudaram?




É notável a guerra pelos leitores nos principais jornais de Salvador. Na última quarta-feira, 27, o Correio da Bahia implementou a mudança do projeto gráfico tanto do portal de notícias quanto do periódico impresso do grupo da família Magalhães. O jornal passa a se chamar Correio, unicamente, além de estar mais enxuto, graças ao formato Berlinder, que substitui o Standart e barato, vendido ao preço popular de R$1.
Para não ficar atrás do principal concorrente, o Grupo A Tarde, de propriedade da família Simões também alterou o portal de notícias da empresa, 48h depois da inovação do Correio. Ambos os portais estão mais leves, mais coloridos e multimidiáticos, dotados de mais interação com os internautas, mas em relação as plataformas digitais de ambas as instituições, confesso que não vejo inovações significativas quanto ao conteúdo.
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Eu acabo de ler nas "[+] Lidas" do Correio: "Homem é morto dentro de lan house no bairro do Cabula". Ao clicar no link, me deparo com três linhas que só são capazes de dizer que o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) informou há cerca de 10 minutos que uma pessoa foi achada morta dentro do estabelecimento, mas que "Ainda não há informações sobre a identidade da vítima ou as causas da morte". Ora, faça-me o favor! Se os detalhes essenciais são desconhecidos, por quê publicar? E quem tem familiares naquele bairro, como será que reage a uma "notícia" como essa?
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E no A Tarde, os velhos defeitos de sempre. Um festival de notícias reproduzidas de agências nacionais, como a do Globo ou internacionais, como a Efe. Falta correspondente e/ou comentarista internacional e sucursais. Sobram textos "senso comum" nas editorias de economia, cultura e esportes.
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Vejamos. O mecanismo visado pelo Correio e o A Tarde para ganhar mais leitores através da internet é a interatividade. No entanto, nenhum dos dois conseguiu ainda atingir este alvo em cheio, salvo a aplicação de alguns dos processos de interação. No texto Características e implicações do jornalismo na Web, em que Mielniczuk cita Bardoel e Deuze (2000), vemos que a notícia online possui a capacidade de fazer com que o leitor/usuário sinta-se parte do processo. Isto pode acontecer de diversas maneiras, entre elas, pela troca de e-mails entre leitores e jornalistas; através da disponibilização da opinião dos leitores, como é feito em sites que abrigam fóruns de discussões; através de chats com jornalistas. Porém, os autores não contemplam a perspectiva da interatividade no âmbito da própria notícia, ou seja, a navegação pelo hipertexto que, conforme Machado (1997), constitui também uma situação interativa.
Conclui-se que, neste contexto, não se pode falar simplesmente em interatividade e sim em uma série de processos interativos. Adota-se o termo multi-interativo para designar o conjunto de processos que envolvem a situação do leitor de um jornal na Web. Diante de um computador conectado à Internet e acessando um produto jornalístico, o usuário estabelece relações: a) com a máquina; b) com a própria publicação, através do hipertexto; e c) com outras pessoas - seja autor ou outros leitores - através da máquina (Lemos, 1997; Mielniczuk, 1998).
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No entanto, é muito difícil sequer sentirmos a aplicação de alguns desses processos interativos nos portais do A Tarde e do Correio. Isso porque, só para citar dois exemplos, os jornalistas raramente respondem aos e-mails de internautas, bem como dificilmente publicam comentários críticos a respeito de falhas de apuração nas notícias.
Há muito ainda que aprender.
Fonte: aula de Jornalismo On Line II - UniJorge.

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