quinta-feira, 11 de setembro de 2008

A coluna "Eu Mereço" desta semana traz histórias do Maluco Beleza do blog!

Arte gráfica: Zeca de Souza/TVE

O cronista irreverente.

Por Alex Jordan*

Sempre tive a fama de ser maluco. Por muitas vezes, me senti assim, meio anormal. Com idéias, pensamentos e leituras de mundo que pareciam tão normais para mim, e que para as pessoas que me cercavam era motivo de internação. Levei algum tempo para aceitar isso com certa naturalidade, até por que, às vezes, o fantasma de uma possível insanidade vem me assombrar.
Quando eu era criança, era terrível lidar com esta hipótese. Como este que vos escreve era um garoto hiperativo, isso era interpretado pelas outras crianças como um distúrbio mental. Não foram poucas as vezes que distribuí socos e que chorei por ouvir a seguinte gozação:
-Maluco!
O que mais me irritava é que parecia mesmo que eles tinham razão. Hiperativo, na minha genialidade de seis anos era o mesmo que maluco, doido, louco, pirado, lé lé da cuca, pinel, parafuso a menos, homem do saco...
Em uma das minhas muitas visitas a médicos, um deles recomendou que eu parasse de tomar café. Desde então, não saboreio essa bebida tão tradicional.
Reza a lenda que com menos de dois anos fui ver alguma coisa que estava debaixo da cama e prendi a cabeça na cabeceira. Fiquei alguns instantes sem oxigenação no cérebro (me desculpe caro leitor, mas não me lembro quanto tempo fiquei. Vou ficar devendo. Caso algum dia me recorde, eu prometo que digo!) Convulsões por uns tempos e me safei! O problema foi à constante dúvida: minha curiosidade teria me deixado alguma seqüela.
Dois eletroencefalogramas depois, dos quais nunca tive acesso, o médico orientou minha mãe a manter constante vigília. Qualquer alteração brusca de comportamento seria necessário mais exames. Na minha pré-adolescência fui ficando mais tranqüilo e não foi graças ao Gardenal e ao Diazepan, mas sim por conta de minha magreza. Todos começavam a ficar fortes, menos eu. Poderia até ser louco, mas burro não. Comecei a levar desvantagens nas brigas e as fui deixando de lado, adotei a sábia filosofia oriental de que o vencedor é o que evita o combate.
Minha revolta comum de todo adolescente foi potencializada ao conhecer o “movimento punk”, a causa da minha rebeldia. Seguia a risca tudo que achava que era ser punk.
Ueeeeennnnnn!!!!! Era o sinal que há tempos minha mãe rezava para não chegar. O anúncio de que a insanidade tinha enfim, alcançado o meu ser. Mais um eletroence... Ah, esse exame de nome comprido. Desta vez, eu estava com 16 anos e vestia uma camisa do Ramones (hey ho let’s go!), uma bermuda toda rasgada de tantas lavagens, que eu personalizei (eu era um artista) e uma anarquia tatuada no rosto feita com henna , além do cabelo black a lá brucutu! Dá para imaginar a reação de médicos, atendentes, auxiliares de serviços gerais, outros pacientes, seus familiares e todos os que ali estavam presentes? Se você já leu essa história não se preocupe, todos que me conhecem já leram e ouviram, mas vale a pena, quero quebrar o recorde de repetição da Escrava Isaura, tenha paciência. O pior foi quando anunciei que estava ali para fazer o eletro...
Vários cochichos que certamente diziam:
- E ainda precisa de exame?
-Coitada da pessoa que ficar sozinha na sala com ele. Será que ela tem seguro de vida?
- Que ele não dê nenhuma crise!
Fui para sala e a todo o momento a pessoa que me examinava perguntava se eu estava sentindo alguma coisa. Ela tinha uma voz trêmula. Terminado a avaliação mental, tive que tirar aquele treco da minha cabeça e ela me deu a notícia que tinha faltado água e que eu teria que ir para casa com a cabeça cheia daquele “gel” completando meu estilo de foragido do hospício.
Quando o resultado chegou com o diagnóstico satisfatório, fiquei com a pulga atrás da orelha. Satisfatório? Para quem? Não tem uma resposta mais precisa não? Os amigos me aconselharam a emoldurar e pôr na parede da sala. Outros sugerem que eu tire fotos e as coloque no Orkut.
Vivi com essa dúvida até que um teste finalmente apagou qualquer resquício de esperança. Fui pegar o dinheiro que estava na gaveta para comprar uma filmadora. A ponta do dinheiro estava aparecendo e eu como todo bom baiano ‘bichin’, fiquei com preguiça de abrir a gaveta. E fui puxar o dinheiro. Quando um barulho ‘flishaa’ me fez ficar com metade de uma garoupa na mão. Isso mesmo, uma azulzinha, cem conto rasgado no meio. Se maluco é quem rasga dinheiro, respondi o que a aparelhagem moderna não foi capaz. Sinceramente preferia ter saboreado merda!

*Estudante de jornalismo da Unijorge, em Salvador-Ba. Colabora com o blog desde 2007.

Fale com o Alex: alex341@hotmail.com


Nenhum comentário: