quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fui censurado

Uma pergunta que fiz ao candidato do PSDB à prefeitura de Salvador, Antônio Imbassahy, na noite desta quarta-feira, 18, em mais uma sabatina da Unijorge foi alvo de censura dos integrantes da mesa. Ao contrário do que ocorreu na terça-feira, 17, quando cobri a participação de ACM Neto para o jornal Fala Comunidade, eu estive ontem no auditório do Zélia Gattai apenas como um estudante interessado no conteúdo do evento, um cidadão mais do que comum.
Foi o debate mais frio até o momento. Parece que tudo foi orquestrado para levantar a bola do neotucano. Ele foi muito mais aplaudido do que o prefeito João Henrique (PMDB) e do que o candidato do DEM, ACM Neto. Explico: foi também o menos provocado. O pior não é isso, mas o fato de que quando foi instigado a esclarecer situações mais difíceis, as perguntas simplesmente não eram lidas pela mediadora Cleidiana Ramos. Vale ressaltar que antes de chegarem às mãos dela, as questões passavam pelos demais componentes de uma, digamos, triagem: um integrante do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e uma diretora da Unijorge.
Ao perceber os bocejos de sono do público presente, apesar do debate ter sido transformado em um legítimo comício por Antônio Imbassahy, resolvi fazer uma pergunta mais apimentada para o candidato. Às 20h32, entreguei minha questão manuscrita (no formato da sabatina as perguntas são feitas desse modo) ao colega Diego Salviano, que prontamente levou-a até a mesa. Eis o conteúdo de minha dúvida: "Candidato: o senhor recentemente moveu uma representação judicial contra a Rádio Metrópole, sob a alegação de que a honra de sua família foi atingida pelo apresentador Mário Kértesz, que comentou no ar que a sua esposa foi impedida de dar uma entrevista ao Jornal da Metrópole, que estava fazendo uma matéria sobre as futuras primeiras-damas. Pergunto: tal atitude não caracteriza censura à liberdade de imprensa?"
Pois bem. Às 20h44, depois de a minha pergunta passar pelas mãos do rapaz do DCE, pelas vistas de uma diretora da Unijorge e, por fim, da mediadora da sabatina, ou seja, após ter sido analisada três vezes, acabou sendo não lida, arquivada e/ou censurada. A "sabatina" terminou às 21h05 e boa parte das questões dos estudantes que chegaram à mesa, depois da que eu mandei foram lidas. É evidente que o teor delas era um manjar dos deuses para qualquer candidato que tenha que passar por uma sabatina de estudantes. Coisas do tipo: "Quais são as suas propostas para a área da saúde? E para a educação? O senhor terá o apoio do governador Wagner, mesmo ele sendo do PT?"
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Comprovação - tenho a certeza de que a minha pergunta foi analisada, lida e censurada pela mesa. Eu escrevi a questão com caneta hidrocor preta, logo, o texto ficava em negrito, na comparação com os demais. Ao meu lado, na parte da frente das cadeiras do auditório, a colega Daiane Sales comentava comigo: "Olhe lá, Murilo. A sua pergunta está nas mãos dela (mediadora) nesse instante!"
Depois do término do evento, já na sala de aula, o coordenador do curso de Comunicação Social, Bernardo Carvalho, que mediou a sabatina nos dois primeiros dias, confirmou a minha desconfiança: quando as perguntas chegam à mesa, elas são lidas pelos mesários, mas só são feitas aos candidatos depois de uma aprovação. Isso significa dizer que quando as questões são reprovadas, por meio de critérios questionáveis, elas simplesmente não são reproduzidas, o que na minha opinião caracteriza , sim, a censura.
Para Carvalho não há censura. Ocorre uma avaliação das perguntas que chegam e os mediadores decidem, em seguida, se serão publicadas ou não. Todo o eufemismo é pouco... Ele argumentou que alguns estudantes atacam à honra dos candidatos, muitas vezes com perguntas redundantes ou desnecessárias.
Eu concordo que ataques morais não podem ser permitidos, bem como palavras de baixo calão. No formato em que a sabatina foi feita, as perguntas redundantes ocorrem em larga escala, aí eu compactuo com a decisão de excluir as semelhantes e optar por apenas uma de mesmo sentido. Mas, pera lá! No meu caso, eu gostaria de saber o que Imbassahy considera "ataque à honradez" e censura à imprensa, afinal, a Rádio Metrópole está proibida de citar o nome dele na programação, sob pena de multa. Lamentavelmente, a mesa entendeu de forma diferente.
Em minha opinião, o candidato deve, sim, por ora, ser provocado, justamente para mostrar se tem o preparo necessário para administrar uma metrópole problemática como Salvador. JH e ACM Neto foram sabatinados, literalmente testados, em alguns momentos, ambos se saíram muito bem, noutros, nem tanto, mas o misto de vaias e aplausos que receberam ao término do debate foram mais enriquecedores para todos do que os dois minutos de palmas para Imbassahy na noite de quarta-feira.
Meus colegas concordaram comigo, quanto a censura. Carvalho não. Ele disse que eu posso chamar esse método do nome que eu quiser, mas que censura não é. Tudo o que estou escrevendo agora nós discutimos ontem, na sala de aula, depois da sabatina. Ele é um jornalista experiente, eu sou apenas um estudante. Eu afirmei na frente dele, um dos organizadores da série de debates que fui censurado ontem. Ele discorda. Eu respeito muito ele como professor e coordenador do curso, elogiei, inclusive, a iniciativa de trazer os debates para a Unijorge. Mas não sou obrigado a pôr uma venda nos olhos e deixar de criticar uma metodologia que julgo de fazer inveja a muito militar reformado.
Por fim, eu não represento os interesses da instituição Unijorge, da qual sou aluno.
Meu interesse é pela liberdade, ainda que tardia.

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