sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Carta desesperada*

Foto: Visentico/Sento

Por Mário Quintana
Como é difícil, como é difícil, Beatriz,

escrever uma carta...

Antes escrever os Lusíadas!

Com uma carta, pode acontecer que,

qualquer mentira venha a ser verdade...

Olha! O melhor é te descrever, simplesmente,

a paisagem,

Descrever sem nenhuma imagem, nenhuma...

Cada coisa é ela própria a sua maravilhosa imagem!

Agora mesmo parou de chover.

Não passa ninguém. Apenas

um gato

Atravessa a rua

Como nos tempos quase imemoriais

Do cinema silencioso...

Sabes, Beatriz? Eu vou morrer!

*Publicado em Apontamentos de história sobrenatural. Porto Alegre: Globo & Instituto Estadual do Livro, 1976.

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