segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

O Mapa*

Foto: Rodrigo Godoy





Por Mário Quintana


Olho o mapa da cidade


Como quem examinasse


A anatomia de um corpo...





(É que nem fosse o meu corpo!)





Sinto uma dor infinita


Das ruas de Porto Alegre


Onde jamais passarei...





Há tanta esquina esquisita,


Tanta nuança de paredes,


Há tanta moça bonita


Nas ruas que não andei


(E há uma rua encantada que nem em sonhos sonhei...)





Quando eu for, um dia desses,


Poeira ou folha levada


No vento da madrugada,


Serei um pouco do nada


Invisível, delicioso





Que faz com que o teu ar


Pareça mais um olhar,


Suave mistério amoroso,


Cidade de meu andar


(Deste já tão longo andar!)





E talvez de meu repouso...








*Publicado em Apontamentos de história sobrenatural. Porto Alegre: Globo & Instituto Estadual do Livro, 1976.

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