domingo, 4 de janeiro de 2009

Eu também fui um baixa renda - o ProUni é um tapa na cara da classe média

Eu leio no A Tarde On Line que o Programa Universidade para Todos (ProUni), uma iniciativa do governo federal, contemplará 4,6 mil estudantes baianos com bolsas de estudo integrais ou parciais, para cursarem o ensino superior privado, a partir deste ano. Em todo o país, o Ministério da Educação (MEC) oferecerá 156.416 bolsas em 2009. A lista dos novos bolsistas será divulgada nesta segunda-feira, 5 de janeiro, no site do ProUni.
Ao ler a matéria, não posso deixar de registrar parte do filme que vem em minha mente. Em agosto de 2004, lá estava o "novo baiano" realizando a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) na Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC), de Salvador.
Era uma tarde ensolarada de agosto. Havia uma multidão lá na FTC. Estava ali a minha única chance de conseguir chegar a uma faculdade de jornalismo naquele ano - um sonho antigo. Como um filho de Alvorada, que é uma cidade com um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Rio Grande do Sul, caixa de um estacionamento park no bairro da Calçada, poderia pagar cerca de R$ 800 mensais para estudar em uma Jorge Amado? E a concorrência na Federal, com os filhinhos de papai que estudaram nos melhores colégios de Salvador? Como seria?
Fiz a prova do Enem naquele ano certo do que precisava. No final do ano, veio o resultado: 97,82 na parte objetiva, 98,99 na redação. Fiquei em segundo lugar em todo o Estado da Bahia.
Pelo fato de ter estudado todos os anos em escola pública (obrigado, Escola Estadual Senador Salgado Filho!), além de a minha renda familiar ser inferior ao limite exigido, conquistei a bolsa integral para cursar jornalismo, mas não sem antes ter que passar por uma maratona burocrática referente à documentos e a realização de uma prova de aptidão na própria faculdade, para provar que eu tinha condições de permanecer mesmo lá.
Passei em todos esses testes. Uma vez lá dentro, ainda tive, assim como os demais bolsistas, que conviver algum tempo com o preconceito de quem não teve a mesma história de vida, tampouco capacidade semelhante. As críticas dos meus colegas mais abastados, filhos da high society da Soterópolis, eram rebatidas por mim da seguinte forma: "Não cheguei aqui através do sistema PL (passou, levou) do vestibular..." Assim como a Zagallo, tiveram de me engolir...
Com o tempo, Alex, Mateus, Uílton, Michelle e eu provamos que podíamos ter os melhores desempenhos da turma na sala de aula. Nossos resultados confirmavam a tendência nacional: por proporção, os bolsistas têm desempenho superior ao dos estudantes provenientes do vestibular.
E agora, estou imprimindo, pela última vez nesses quatro anos de curso, o contrato de serviços educacionais para ser entregue na faculdade. Irei me formar em julho deste ano, graças ao meu esforço e a competência do MEC, que na época era capitaneado pelo atual ministro da Justiça, o meu conterrâneo Tarso Genro. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que institucionalizou o projeto, qu ehoje já contemplou mais de 400 mil bolsistas, também tem grande parte deste mérito.
Para desespero de muitos, o ProUni é muito mais do que um conceito de complexo de inferioridade que busca tirar dos ricos para dar aos pobres. Como em tudo em nossa vida, nada é dado, mas, sim, conquistado, com muita luta. É um programa que visa reparar uma desigualdade histórica, que privou as camadas mais pobres financeiramente da sociedade, da chance de cursar o ensino superior.
Há quatro anos, os filhos da classe média, não colam os seus graus sozinhos.


Um comentário:

Anônimo disse...

Parabens! São poucos os q conseguem em meio tanto preconceito de pessoas q analizam ser superiores apenas pela condição fianceira superar tantos obstáculos q aparecem.
Fui selecionada tambem pelo meu exelente desempenho no ENEM e espero ser tbm aprovada após a entrevista. É muito bom saber q posso ingressar em uma boa instituição sem apelo ao "PL"(amei isso).


"...o ProUni é um tapa na cara da classe média".